Curso de processamento de polpa de frutas


O Instituto Mundo Unido inaugurou a construção da primeira etapa da Incubadora de Empreendimentos Econômicos Solidários, sob os princípios da Economia de Comunhão (EdC), no assentamento Zumbi dos Palmares, município de Branquinha, a 64 km de Maceió, capital de Alagoas. A inauguração contou com a participação de aproximadamente 120 pessoas, dentre os quais 80 membros da comunidade (crianças, jovens e adultos).
Também estavam presentes a arquiteta Cristina Lira, autora, coordenadora do Projeto, e Francesco Tortorella, da Associação Italiana Mundo Unido – AMU, que estuda a possibilidade de estabelecer uma parceria com os assentados. Ambos são voluntários do Movimento dos Focolares. Com as autoridades locais, prestigiaram a inauguração a economista Márcia Charret (Representante da Comissão Regional da EdC) e o empresário João Bosco (da Dallastrada, empresa inserida no Pólo Empresarial Ginetta, da EdC no Nordeste).
Homenagem – A programação começou com um momento de silêncio em homenagem póstuma ao estudante de Agronomia e ex-bolsista da Incubadora, Marlon da Silva, ressaltando sua grande contribuição para o desenvolvimento daquela comunidade. Entre os que se pronunciaram, Francesco Tortorella destacou a economia enquanto fator fundamental na vida comunitária, não somente sob o aspecto da produção (trabalho), o que, segundo ele, “torna-nos semelhantes a Deus”, mas também sob o aspecto da realização humana.

Visão geral da capela e incubadora em construção


Tortorella também salientou a importância da Comunhão, da cultura da partilha, da solidariedade, da preocupação com o bem comum. Definiu a liberdade do ser humano como “processo de libertação da escravidão de somente receber para entrar na interação entre o dar e o receber, que o torna ator da sua história e da história da humanidade”. E convidou a comunidade a fazer uma experiência de Economia de Comunhão na Liberdade.
Jovens – O representante juvenil do assentamento, Marcos da Silva convidou todos os jovens a fazerem parte do projeto e colaborarem com o desenvolvimento da comunidade. Em seguida, o padre André de Paiva Oliveira abençoou a incubadora e Cristina Lira, com a ajuda de uma criança do assentamento, desfez o laço de fita, gesto que simbolizou a abertura do prédio para o início das atividades produtivas.
No lanche, os presentes puderam degustar os primeiros doces fabricados na incubadora, além de apreciar e adquirir os produtos expostos: polpas de frutas, artesanato em fibra da bananeira e bijuterias. Para alegria do grupo, já chegaram as primeiras encomendas. O atual desafio do Instituto Mundo Unido é a elaboração de um plano de negócios e de qualificação dos produtos.
Para o IMU, esses avanços correspondem à atitude sempre fiel da comunidade aos seus valores. “Percebemos, em todos os momentos, o clima de emoção, de gratidão a Deus (o autor de tudo) e às pessoas de boa vontade que colaboraram e colaboram com este Projeto Social, além do reconhecimento da comunidade da importância da espiritualidade do Movimento dos Focolares nesse processo; alguns representantes locais se denominam ‘filhos de Chiara’, o que nos faz entender que tudo converge para a realização do mundo unido”, afirmou Cristina Lira.
Na inauguração da incubadora, representando o Movimento dos Focolares, estiveram em torno de 30 pessoas, entre elas Jussara Varela (da Escola Santa Maria, localizada no Centro Mariápolis), Margarida Santos (do Focolare Feminino de Alagoas), Irene Silva (Presidente do Instituto Mundo Unido), Vânia Claudia Wanderley (vice-presidente do IMU) e representantes da comunidade de Garanhuns (PE).
Da comunidade local, além do pároco da comunidade, estavam José Quitério da Silva (vereador de Branquinha), Ivanildo Otacílio Caetano, Maria Lucilene dos Santos, Manoel Clemente da Silva (líderes comunitários), Luciene Correia (Diretora da Escola Municipal Demócrito José), Ione Justino Alcione (ex-Secretária da Secretaria de Ação Social do município) e da Ufal, a professora Adriana Alvarenga Marques, do curso de Administração.
Assentamento – O assentamento Zumbi dos Palmares está dividido em 124 parcelas com uma média de seis hectares cada; é composto por uma área comunitária central que contém uma agrovila com 12 casas, cinco hectares para cultivo, posto de saúde, escola de ensino fundamental, centro social, escritório, lanchonete, igreja católica, igreja evangélica (em construção) e casa de farinha.
Com todos estes equipamentos, a área central, “necessita de um tratamento paisagístico”, segundo Cristina. O aspecto do lugar ainda contrasta com a beleza proporcionada pela reserva da Mata Atlântica, considerada um potencial em termos de recursos naturais (biomassa) e de turismo ecológico.

Comunidade no lançamento do projeto em julho de 2011


Agricultura familiar – No início, os incentivos financeiros do governo direcionados ao Assentamento Zumbi dos Palmeares foram empregados no plantio de laranja e banana. Hoje, os assentados cultivam também acerola, caju, goiaba e maracujá, além de hortaliças. Algumas famílias criam, de forma extensiva, aves, gado e cabras.
No local vivem 167 famílias, em torno de 1.200 pessoas, sendo 86 jovens na faixa etária de 14 a 25 anos e 260 crianças de 0 a 13 anos (dados de 2009). Percebe-se a presença de idosos sem condições de cuidar do próprio lote. Muitos jovens se casam e, sem emprego e renda fixa, permanecem na casa dos pais. As adolescentes são propensas à gravidez precoce e à exploração sexual. Detecta-se problemas como o alcoolismo, o uso de drogas e a violência familiar.
Instituto Mundo Unido – O trabalho do Instituto Mundo Unido começou no Assentamento Zumbi dos Palmares com o objetivo de demonstrar, por meio de uma pequena experiência, que é possível superar a miséria, com estratégias de desenvolvimento rural, baseadas nos princípios da EdC e articulando o terceiro setor e os órgãos públicos federais, estaduais e municipais.
A cronologia da ação socioeconômica em Branquinha envolve desafios e conquistas:
1998-2000: Foram os anos de realização de uma pesquisa sobre EdC e Desenvolvimento Sustentável, por Cristina Lira, então mestranda e hoje mestre em Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Alagoas. Cristina conta que, na época, Chiara Lubich havia escrito uma carta aos membros do Movimento no Brasil, na qual afirmava que a vocação do Brasil é superar a miséria. Em sua pesquisa, a arquiteta buscou delinear alternativas de desenvolvimento justamente para um dos mais pobres municípios do Brasil, Branquinha, com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,513, o 99º do estado de Alagoas.
2001-2002 – Ao término da pesquisa, uma liderança comunitária questionou aos pesquisadores: “Depois da pesquisa, vocês vão nos deixar?”. Desde então, estreitou-se o relacionamento da pesquisadora com a comunidade que, com a ajuda de outros membros do Movimento dos Focolares, lançou ali o Ideal da Unidade e começou a promover reuniões mensais da Palavra de Vida.
2002-2003 – O Assentamento Zumbi dos Palmares foi beneficiado por um projeto de extensão da Ufal que promoveu a capacitação de jovens e adultos nos seguintes cursos: Economia de Comunhão, Agricultura Orgânica, Artesanato com Fibra de Bananeira, Pintura em Tecido, Reflorestamento da Mata Atlântica, além realizar de ações de saúde e educação ambiental.

Mutirão para construção da incubadora


2006-2009 – O seminário “Desenhando a Cidadania Hoje”, promovido pelo Movimento Humanidade Nova, fez avançar as ações de desenvolvimento no assentamento, com a ajuda de uma empresa da EdC (a Santa Fiora) e do poder público local. Este período culminou com a constituição do Instituto Mundo Unido, cujo objetivo inicial era dinamizar as iniciativas de promoção humana no assentamento.
2010-2012 – Um segundo projeto de extensão foi aprovado pela Universidade Federal de Alagoas, este com o objetivo de gerar renda por meio da produção de artesanato com fibra da bananeira e da fabricação de doces, polpas de frutas e bijuterias. Em paralelo, avançou-se na formação dos assentados com base na “cultura da partilha”, um dos princípios da EdC.
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