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As escolhas políticas e suas consequências

“[…] de todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim vocare, quer dizer chamado. Vocação é um
chamado interior de amor: chamado de amor por um ‘fazer’ […] Política vem de polis, cidade […] a vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade […] o político provocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo […] um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade [..] conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.” (Rubem Alves: “Sobre Política e Jardinagem”)1

Desde há muito tempo ouvimos falar ou aprendemos que o conceito de política está ligado ao ato de governar e de tomar decisões, que está relacionado com aquilo que diz respeito ao espaço público e ao bem dos cidadãos. Por isso,
como afirma Rubem Alves na epígrafe, “de todas as vocações, a política é a mais nobre”. Na mesma linha, o Papa Francisco define os políticos como “artesãos da paz”2 e o Movimento Político pela Unidade os define como Políticos da Unidade.

Infelizmente, quando somos ‘agredidos’ por notícias que dão conta das tragédias vivenciadas por tantas pessoas, famílias e comunidades durante essa pandemia temos muita dificuldade para compreendermos, aceitarmos, vermos a
política dessa forma. E com razão!

Tragédias como essas escancaram/gritam que uma parte (não saberíamos dimensionar o tamanho) da nossa política, dos nossos políticos já não estão mais grávidos da Política que é vocação, que ama, que cuida das pessoas, mas completamente e diversamente áridos/vazios.

Áridos/vazios de sentido, significado, amor, vocação, de fraternidade.
Quando uma pessoa política é árida/vazia da Política os seus discursos e narrativas (isso quando o próprio discurso ou narrativa já não está comprometido) seguem na direção diametralmente oposta às suas ações e práticas. Uma pessoa árida/vazia de Política é oca já não se sustenta ou para se sustentar não cuida, mas mata o que encontra ao seu redor, parasita o entorno e o cerne das instituições.

Nosso sistema político atual é árido/vazio de Política quando permite que políticos, ainda que se elejam com uma narrativa política, banquem seu mandato àqueles que bancam financeiramente sua eleição, aos interesses de um
grupo, de uma ideologia. Uma vez que a maioria dos eleitores não possuem poder econômico para bancar a eleição de ninguém, nosso sistema político atual árido/vazio, ao permitir esse tipo de relação, insere à política um significado
particular de grupo que se apropria da política para conquistar benefícios particulares ou de grupo, sem se preocupar com as suas consequências, esvaziando a política do seu significado essencial do cuidado das pessoas, das comunidades, da sua gente.

Infelizmente podemos constatar de forma dolorida que essa aridez/vazio de Política, que não cuida, que deixa morrer, é a práxis cotidiana de boa parte das nossas lideranças políticas atuais, do Legislativo ao Executivo, nos seus diferentes espaços, Municipal, Estadual e Federal. Suas palavras e ações já não são mais política, são qualquer outra coisa, ainda que tente se revestir de política.

Política árida/vazia que intoxica os relacionamentos e cujas consequências podemos observar na dor que provoca e reveste o cotidiano da sua gente, na falta de cuidado com o meio ambiente ou com as próprias instituições. Consequências que podemos observar na ausência de planejamento e políticas públicas necessárias para cuidar das pessoas em meio a uma pandemia mundial ou nas políticas públicas que incentivam o desmatamento, as queimadas, o uso indiscriminado de agrotóxicos ou ainda na desconstrução de leis e regras para facilitar a liberação de armas e munições.

E o mais preocupante quando se percebe nas atitudes, palavras/discursos e ações de muitos dos nossos representantes, sem vocação para serem jardineiros políticos, incapazes de “transformar poemas sobre jardins
em jardins de verdade”
, a falta de cuidado ou de consciência com a própria função que exercem. Função cujo serviço deveria ser destinado a todas as pessoas, mas que na prática é destinada apenas ao seu grupo de apoiadores e contra aqueles que pensam diferente e se colocam na oposição.

Exercer a função pública com o único objetivo de impor as suas convicções políticas, sem abertura ao diálogo e a tolerância, pode ser qualquer coisa, menos a política de que nos fala Rubem Alves ou Chiara Lubich, inclusive o início de uma ditadura.

Em momentos como esses que estamos vivendo, nossas estruturas institucionais deveriam estar devidamente habilitadas para, junto com a sociedade, impor as devidas sansões legais a esses nossos representantes que vivem a política do medo, árida/vazia de cuidado. E além disso, é de fundamental importância que as pessoas, que a sociedade brasileira como um todo, aprenda a escolher melhor as suas lideranças políticas.

Que possamos juntos conquistar a capacidade de escolhermos e apoiarmos sempre mais ‘jardineiros’ com vocação política, poetas políticos, artesãos da paz, políticos da unidade capazes de transformar sonhos em realidade, envolvendo a sociedade como um todo nesse processo de construção permanente, de protagonismo individual e coletivo, de família. Políticos jardineiros capazes de cuidar da sua gente com políticas públicas que ofereçam
educação e saúde púbicas de qualidade, que cuidam da nossa casa comum e das instituições, que atuem incansavelmente pela paz, que o seu ser e agir sirvam de exemplo para todos nós.

Tendo presente que a Fraternidade é o dever ser de toda pessoa que se quer Humana (que ama o outro como a si mesmo), todo o povo brasileiro deve se sentir corresponsável e protagonista por gestar coletivamente o espaço de uma Política cotidianamente grávida de Fraternidade, capaz de “construir relações inspiradas na fraternidade universal e de compreender em profundidade o papel e a finalidade do próprio projeto político assim como dos demais, a instituição em que atua e demais instituições, sua própria cidade e as cidades das outras pessoas, o seu próprio povo e os outros povos… agindo em relação aos outros como gostariam que os outros agissem em relação a eles”3. Nosso desafio enquanto sociedade (família humana) passa urgentemente por ressignificar o espaço político, recuperando seu papel fundamental de organização e espaço de interlocução em sociedades cada vez mais complexas e interligadas.

Sedimentando, através da política, relações sociais, políticas e econômicas de cogovernança, fundadas na corresponsabilidade, inclusivas, fraternas, ou simplesmente na esperança de um povo que se percebe capaz e
responsável pelo que é e pelo seu futuro.

Acreditamos que a FRATERNIDADE universal é a raiz mais sólida para uma verdadeira transformação social e política. O Movimento Político pela Unidade não apenas propõe a fraternidade como princípio político, mas se coloca inteiro nesse desafio, ao lado de todas e todos os brasileiros, para que possamos juntos, a partir das riquezas e capacidades que nos caracterizam, transformar “poemas sobre jardins em jardins de verdade”.

1 Rubem Alves: “Sobre Política e Jardinagem”

2 Papa Francisco – Fratelli Tutti: Sobre a Fraternidade e a Amizade Social

3 CHARTA – Movimento Político pela Unidade

Movimento Político pela Unidade

Contato: brasil@mppu.org.br
Elaine Oliveira – Secretária
Edjonhson Pinto – Copresidente
Flávio Dal Pozzo – Presidente

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