O CIES – Centro Integrado de Educação Especial –, em Teresina (PI), atende crianças com deficiência mental, de zero a quatorze anos. Atualmente é referência para o Brasil pelos resultados positivos em relação ao desenvolvimento desses alunos, de modo especial no que se refere à sua inclusão no ensino regular.
Trabalham no Centro cinco membros do Movimento dos Focolares, com diversas funções e com diferentes âmbitos de formação profissional – pedagogia, psicologia e fisioterapia. Eles formam um pequeno núcleo, uma “célula de ambiente”, que procuram manter viva através da vivência do amor recíproco ensinado por Jesus e constantemente renovado entre eles. Eles contam:
Temos assim a possibilidade de injetar esta mentalidade nova em todo o tecido, influenciando positivamente na instituição. Nosso grande desejo é resgatar os valores humanos introduzidos pelo Evangelho, que se traduzem no respeito às diferenças, de modo especial para com esses pequenos ‘diferentes’, muitas vezes discriminados e subvalorizados em seu potencial.
Diante das limitações cognitivas das crianças era necessário encontrar um método eficiente, que acompanhasse as suas demandas por um atendimento educacional especializado, mas sem deixar de ousar na busca do novo que o Evangelho solicita.
Durante o ano de 2011 a opção estratégica do Centro foi pela teoria das “inteligências múltiplas de Gardner”, segundo a qual a inteligência humana não é estática, mas um processo em construção. Foi sob essa base que propusemos então, aos outros profissionais, a utilização do “Dado do Amor”, a fim de desenvolver nas crianças a inteligência inter e intrapessoal, estimulando-as a relacionar-se consigo mesmo e com os outros”, contam.
A proposta foi acolhida por todos. Para que fosse o mais compreensível possível paraas crianças, sem, contudo, perder a sua essência, o grupo pensou em uma forma de substituir algumas expressões.  Assim, a frase “ver Jesus no outro”, foi substituída por “fazer ao outro aquilo que faria se ele fosse Jesus”; “Fazer-se um” por “sentir o que o outro sente”; “amar o inimigo” por “amar quem é diferente”. Montaram o novo dado com figuras expressivas, que representassem fielmente a mensagem a ser transmitida.
Desde o primeiro dia a ideia entusiasmou tanto as crianças como os educadores. Ao jogar o dado, a frase que caiu foi “amar por primeiro”. Logo em seguida um menino que tem paralisia cerebral e apresenta desvio de comportamento na vivência em grupo, tratou mal uma coleguinha, chamando-a com um apelido. A reação da menina foi surpreendente: levantou-se, ficou de pé diante dele e de maneira carinhosa disse: “Veja, não tem problema, eu amo você assim, mesmo se você tem essa mãozinha torta, isso não importa!”.
Numa outra classe, um menino autista estava muito agitado. A professora o levou por um momento fora da sala e explicou novamente, somente para ele, o jogo do “dado”. Imediatamente exclamou: “Ah! Agora, quando Ana colocar a roupa de molho eu não vou mais derramar a água… não posso fazer isso com ela!”, referindo-se à pessoa que em sua casa faz a lavagem da roupa, e que ele tinha o prazer de atrapalhar virando as bacias para derramar a água.
Tínhamos consciência do desafio e nos perguntávamos até que ponto eles poderiam captar e viver essa nova mentalidade, ultrapassando uma tendência natural, acentuada pela doença, de estar voltados às próprias necessidades. Mas estávamos convencidas de que o amor é a linguagem universal da convivência humana, o DNA presente em cada pessoa, e vimos, na vida cotidiana, que bastava um impulso para que ele começasse a aflorar.
Uma demonstração disso aconteceu com um aluno que, além de viver um momento familiar conflituoso, sofria com a falta de atenção da professora da rede regular, que não se preocupava em fazer uma atividade adequada para o seu nível de dificuldade. O fato de não incluí-lo na dinâmica da turma o deixava muito triste. Mas ele, motivado pelo “dado do amor”, passou a tomar iniciativa no amor, modificou a sua postura e levou a professora a dedicar-lhe a atenção necessária.
Outros alunos da escola foram contagiados por essa experiência; em algumas ocasiões, diante de gozações pelas suas deficiências, os alunos especiais reagiam com delicadeza, não rompiam a amizade, dividiam os doces que tinham, e o resultado foi um clima mais sereno e de amizade entre todos.
Também os pais entraram na nova dinâmica da vida dos filhos, e começaram a surgir gestos concretos de solidariedade praticados pelas famílias: colocar à disposição uma cadeira de rodas a mais para uma pessoa desconhecida; acolher em casa uma família encontrada no hospital e que precisava de assistência para o filho doente, dividindo com eles o pouco que possuíam.
A experiência continua, os desafios cotidianos são muitos e vários, mas a alegria das nossas crianças, a força e a perseverança que demonstram não nos deixam parar. Se estas são ‘crianças especiais’ pelas condições em que se encontram, ainda mais especial é o amor que deve chegar a elas; embora continuemos a constatar, todos os dias, o quanto estes pequenos tornam-se cada vez mais verdadeiros mestres na arte de amar.