20141016-01

Dieudonné e Emerthe Gatsinga (Rwanda)

«Fomos dar um curso em Goma, no Congo (RDC). Um casal contou-nos que quando tiveram que fugir por causa da erupção do vulcão ele rapidamente vendeu toda a mobília da casa, sem saber que no forro do sofá estavam escondidas as economias da mulher! Estes mal-entendidos causados pela falta de comunicação no casal não são esporádicos». A afirmação é de Dieudonné Gatsinga, ginecólogo, e Emerthe, economista, que vivem em Kigali, Ruanda. Foram convidados ao Sínodo extraordinário sobre a família, na qualidade de responsáveis pelas jovens famílias do Movimento dos Focolares no seu país e no Burundi, no Quênia e em Uganda.

Desde jovens participaram de um grupo comprometido na vivência radical do Evangelho, inspirados na espiritualidade dos Focolares. «Assumimos este ideal de vida, também como casal – conta Emerthe. Quando nos casamos prometemos não ficar fechados em nós mesmos, mas doar-nos aos outros. Desde então, passaram-se 26 anos. Temos oito filhos, dos quais quatro foram adotados, depois do genocídio em Ruanda. Não foi fácil criar oito crianças num momento de grande crise social e econômica no nosso país e com experiências tão traumatizantes. Mas Deus ajudou-nos e agora nossos filhos estão todos crescidos: dois deles já nos deram três netos».

Juntos administram uma clínica com cerca de vinte leitos. «Por causa do meu trabalho – continua Dieudonné – muitas vezes tenho contato com mães que, diante de uma gravidez difícil, gostariam de abortar. Mesmo se os meus dias são muito cheios, sinto que diante destas pessoas devo encontrar todo o tempo necessário para ouvi-las até ao fim, tranquilizá-las, conversar com elas sobre a sacralidade da vida. Sou padrinho de muitas destas crianças, que nasceram por causa do apoio que procurei dar».

Na região onde se encontram os problemas familiares não faltam. As mulheres, que viveram na submissão por muitos anos, agora buscam afirmação. «Atualmente, também na África – salienta Emerthe – muitas jovens alcançaram um nível de instrução elevado e não toleram mais ser submissas. Mas os homens ainda não estão preparados para um relacionamento paritário e não sabem enfrentar com serenidade esta mudança, por isso continuam resignados a caminhar em dois níveis».

«Quando reunimo-nos com as famílias jovens – prossegue Dieudonné – levamos a elas a boa-nova do matrimônio cristão. Recordamos-lhes as promessas feitas no dia do casamento, isto é, o ser os dois uma coisa só, para caminhar juntos seguindo quatro diretrizes: a comunicação profunda no casal, a partilha da economia familiar, a participação dos dois na educação dos filhos, a oração em família. Este anúncio, feito através da experiência da vida evangélica, faz reflorescer a esperança numa relação mais partilhada, mais alegre, tanto para os dois esposos como para os filhos. Lembro-me de um homem que tinha construído uma casa sem a mulher saber. Queria demonstrar para ela que sabia fazer alguma coisa. Porém, como os dois não conversavam, ela ignorava este propósito e continuava a julgá-lo. Quando descobriram esta visão do matrimônio, reencontraram-se e reconciliaram-se».

«É uma alegria ver que os jovens que fizeram um percurso de fé consciente – destaca Emerthe –, fazem a escolha do matrimônio cristão, escolhendo uma festa nupcial sóbria, em geral sustentada pela comunidade. Quando acontece que, apesar da preparação cristã, não conseguem renunciar ao estilo de vida precedente, procuramos manter o relacionamento aberto. E quando sentem-se prontos para celebrar o sacramento, é natural para eles inserirem-se na comunidade e voltarem a caminhar juntos».