Pediatra, membro de muitas associações, cidadã comprometida, voluntária nos países em vias de desenvolvimento
Elena Sachel sempre labutou pelos últimos, pelas vítimas das drogas, pelas mulheres enlaçadas na rede da prostituição, pelos imigrantes sem direitos, pelas crianças nômades e abandonadas. Em cada um sabia reconhecer, com doçura e inteligência, a pessoa com a sua personalidade e exigência de amor. O segredo de seu comportamento corajoso? Colocar em prática o Evangelho.
Ainda jovem conheceu o Movimento dos Focolares, e sua sede de justiça e igualdade a levou logo a colocar em prática o apelo de Chiara Lubich a dar a vida pela própria gente.
No início dos anos 1980 dedica-se com energia aos dependentes químicos. Coloca à disposição a sua própria casa e, com outros, aluga um pequeno apartamento nas montanhas, para a reabilitação. Depois, a hora do Peru. Deixar a Itália para cuidar dos mais pobres foi sempre o seu sonho, mas depois de alguns meses precisou retornar, por motivos de saúde. Para Elena este foi um sinal: Deus quer que ela esteja em Magenta (Milão Itália).
A volta para casa abre para ela novos caminhos. O seu empenho no Movimento jamais significa fechar-se na comodidade, mas a leva a buscar companheiros de viagem sempre novos, que possam ajudar-se na solução dos problemas. Porque Elena é universal. Talvez pela origem judaica dos seus pais, que marcou a sua existência desde a infância, durante as perseguições raciais.
Eu era estrangeiro e vós me acolhestes. Abrindo-se aos desafios de sua terra Elena toma as palavras do Evangelho e as vive. Assim, durante vinte anos empenha-se em uma associação que se ocupa dos problemas sanitários, legais e burocráticos dos imigrantes. Com uma amiga leva socorro às prostitutas, indo corajosamente aos bairros mais perigosos, à noite. Várias vezes luta para exigir políticas sociais adequadas. Quando acontece a desocupação de um campo de ciganos, Elena escreve aos prefeitos da região sugerindo uma solução alternativa ao problema.
Em 1994, pela sua insistência, a prefeitura cria uma Casa de Acolhida para pessoas em dificuldades. Quando, já idosa, ela mesma muda-se para lá, recolhe os frutos do seu trabalho: É o amor recíproco. Agora perdi as capacidades, pernas e braços não funcionam, não sou mais autônoma, mas as pessoas competem em ajudar-me, em tudo. Antes era eu pela Casa, agora é a Casa para mim.
A sua humildade e engenhosidade não passam desapercebidas e com frequência a sua dedicação recebe o reconhecimento público. A última homenagem Benemérita das Virtudes Civis a comove de modo especial. Até o fim chama todos a um compromisso corajoso pelas periferias existenciais.
Adormece serenamente no dia 14 de fevereiro de 2014. A revista Città Nuova escreve: Elena era doce e forte, desconcertante em sua fraqueza e fragilidade. Deixou-nos aos 86 anos. Em Magenta, onde foi decretado um dia oficial de luto, a igreja estava repleta com os seus inúmeros amigos. Todos aqueles de quem não importa o credo, de que lugar vem, se é um nômade, não importa quantas vezes errou. O mundo que Elena sonhava era um mundo onde existe lugar para todos.