20140329© Mendes - CSC 2158O encontro do Nordeste com a presidente do Movimento dos Focolares Maria Voce (Emmaus) e o co-presidente Giancarlo Faletti foi também o encontro da região com ela mesma, evidenciado em tantas expressões como a de Isadora Rocha Neves, jovem de Maceió, Alagoas: “O Movimento no Brasil precisou que eles viessem aqui para mostrar a força que temos e precisamos para continuar, recomeçando sempre para levar o Ideal adiante, juntos em busca do Mundo Unido”.
Entre as mais de 2.500 pessoas presentes no Centro de Convenções de Pernambuco estavam jovens como Isadora e muitos adultos, inclusive bem maduros como Maria de Lourdes, voluntária de mais de 70 anos, da Mariápolis Santa Maria, que emocionou a plateia ao cantar, em solo, uma antiga canção do Movimento sobre uma cidade nascente entre os coqueiros, letra que a própria Chiara Lubich escreveu em sua visita ao Brasil nos anos de 1960.
“Desde a hora que eu soube que ia cantar, eu me lembrei de dar glória a Deus e eu disse a Maria que, com isso, eu queria colocar ao menos uma medalhinha na coroa dela”, afirmou Lu, como é mais conhecida. Sua humildade, transparência e, ao mesmo tempo, convicção e fortaleza, típicas dos bons nordestinos, foram também percebidas e ressaltadas por Emmaus quando falou sobre as características da gente que ela encontrou ao aportar nesta região, primeira do mundo a receber o Ideal da Unidade fora da Europa.
Luz da Unidade – O encontro durou poucas horas. Iniciou-se em torno das 15h e terminou por volta das 21h, mas foi o suficiente para fazer brilhar a luz da unidade no coração de jovens como Edcarlos Sobral, de Iguatu, no Ceará: “Foi reviver dentro da gente este Ideal. Ver essa diversidade do Nordeste, do Brasil, tão grande, e todos unidos aqui para construir este momento. Foi como dizer com a própria voz e o coração que estamos juntos, que diante dos desafios do mundo podemos construir esta nova realidade da Obra… oferecer para o mundo essa unidade, esse amor concreto”.
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Significativa foi a presença de pessoas que um dia fizeram parte das estruturas do Movimento e, depois de anos vivendo o Ideal fora delas, se encontraram em casa, como Bianca, gen e focolarina nos anos 1970. “Faz mais ou menos 18 anos que estou afastada, inclusive do Nordeste, e nem estava tão entusiasmada no início. Até que, quando Emmaus e Giancarlo estabeleceram a presença de Jesus em Meio com a sala, tudo adquiriu um novo sentido, como se eu entendesse ainda melhor a cultura da minha terra. Estou retornando com a alma aberta para esta que é a minha família. Estou pronta a um novo chamado de Deus. Eu acredito que, nesse reencontro, também se estabelece um ‘sim’ novo para ele, na minha vida. Estou pronta para o que Ele me pedir, ali onde me encontro, como bibliotecária aposentada e artesã”.
Foi grande a alegria do reencontro de antigos companheiros de caminhada como Maria Verônica (Marive), empresária, que auxiliou na captação de imagens e depoimentos; como Péricles, psicólogo, com seu largo sorriso, que ajudou a produzir entrevistas com representantes das novas e antigas gerações do Movimento como o do bancário aposentado José Adolfo Monteiro, 82 anos, primeiro focolarino casado das Américas. “Ver essa gente toda reunida aqui, tantos anos depois, significa muita coisa, mas eu gostaria de ver muito mais. Para isso, precisamos viver com toda a fé, com a presença de Deus vivo, Jesus entre nós, e o mundo será outro. É um momento de conversão”, disse Zé, como é carinhosamente chamado.
Segundo René Patriota, recifense, médica, advogada, política e gen dos anos 70, “é como recomeçar tudo, como se hoje eu tivesse encontrado o Ideal de Chiara, revendo todos nós aqui, já de cabelos brancos ou carecas, mas com o Ideal fervente, bem vivo, como se Chiara estivesse presente aqui com a gente”. Para ela, trata-se de “um momento de muitas graças que nos leva a aplicar o Ideal neste Brasil, neste mundo que está precisando reconhecer Jesus Abandonado, com suas chagas, amado intensamente”.
20140329© Mendes - CSC 2801“Caldeirão de Cultura” – A primeira parte do programa deixou entrever o grande “caldeirão cultural” que é o Nordeste. O maracatu, o reisado, a ciranda, a quadrilha, o coco e manifestações como a romaria, o carnaval (com passistas de frevo, bonecos de Olinda e caboclos de lança), as romarias e a lavagem das escadarias da Igreja do Senhor Bonfim, na Bahia, foram algumas das manifestações representadas no palco, com a projeção de imagens das cidades, do povo e do artesanato regional. “Uma riqueza que merece ser vista pelo mundo!”, exclamou a jornalista Carla Cotignoli, que acompanha Emmaus e Giancarlo nesta viagem pelo Brasil.
Para Joel Domingos Pereira, recém-chegado da África, onde viveu os últimos cinco anos com os pais, focolarinos casados, Miriam e Roberto Pina, “o dia foi muito especial porque pude ver tanta gente, de tantos lugares, com tantas cores e culturas, juntas, e constatar que essas culturas, mesmo se tão diferentes, podem se colocar unidas em uma única e grande família”. Atualmente morando em João Pessoa, na Paraíba, Joel exprimiu sua gratidão a Emmaus e Giancarlo, “por terem vindo aqui para reunir toda essa família”.
Jean Santos e Ana Nery integraram o grupo de Salvador que trouxe ao Centro de Convenções a beleza daquela quase “nação” afrobrasileira, com o sincretismo, a sensibilidade e a abertura que lhe são peculiares. Jean ressaltou: “O que ficou mais forte para nós foi justamente ter a possibilidade de encontrar Jesus em cada rosto e expressão na arte, na dança, feita com carinho, com respeito; ver que existe ainda a possibilidade de mudança, de renovação, de esperança: pessoas preocupadas com pessoas”. Ana completou: “Para mim, fica esperança em um mundo melhor… e querer esse mundo, esperar esse mundo, de amor. É tão lindo isso!”
Arte e a Vida – As experiências que se alternaram com os números artísticos e as palavras dos apresentadores foram marcantes, como a da família de João Vítor, um adolescente de Sergipe, que faleceu de câncer há dois anos, depois de uma luminosa trajetória de coragem e fé diante da dor. Outras tocaram em questões sociais como a igualdade racial e o desenvolvimento econômico com base nos princípios da partilha. Outras ainda revelaram a força da espiritualidade vivida nos relacionamentos, nas escolhas, nos pequenos grandes gestos de solidariedade, de respeito, de amizade sincera, de bondade contra toda a maldade que pode afligir homens e mulheres, no cotidiano.
Na dinâmica da reciprocidade, criada entre os que se apresentaram no palco e os que fizeram a plateia ou os bastidores do encontro, em sua impressão sobre o dia, Cássia, uma jovem de Garanhuns, Pernambuco, contou sua experiência pessoal: “Para mim, esses últimos anos foram de resposta, de alimento… pude constatar que todos os ensinamentos de Chiara podem ser aplicados. Eu melhorei no relacionamento com meus pais, meus irmãos, meus amigos. Fiz novas amizades e estar aqui hoje é resultado dos passos que dei… difíceis, porque às vezes a gente tem de deixar de lado certas coisas, mas eu não me arrependo de nada. Estava na equipe de comunicação e me surpreendi com os depoimentos das pessoas… foi emocionante, deixaram-me sem palavras, pois a gente se vê também naquelas pessoas. Para mim, Giancarlo e Emmaus estarem aqui é alimento. Agradeço por eles terem dado continuidade a esse trabalho de Chiara tão bem. Que continuem assim!”, incentivou.20140329© Mendes - CSC 2503
O professor Kléber Maux, de Guarabira, Paraíba, sintetizou o espírito com que muitos se recolocaram diante do que escutaram e viram naquele encontro: “Eu poderia dizer muitas coisas, mas é tudo muito pouco. O que me marcou é que Chiara tinha dado a Ginetta (Calliari) um crucifixo vivo quando ela veio para o Brasil. Eu hoje tenho a certeza de que Emmaus nos deu esse crucifixo vivo, ressuscitado. Vivemos numa sociedade de muita corrupção, violência e desigualdade. Humanamente, é impossível reverter essa situação. É preciso acreditar no UT’OMNES, viver o Ressuscitado; só Ele responde a tudo”.
Diálogo aberto – Na segunda parte da programação, o diálogo com Emmaus e Giancarlo incluiu temas como a família, a educação, a cultura contemporânea, a juventude, a posição do Movimento frente à desigualdade social, à economia e à política. Emmaus e Giancarlo fizeram um grande esforço para responder às tantas indagações que chegaram de toda a Região representada por um bloco de mais de cinquenta pessoas sobre o palco. Deixaram claro que seria impossível esgotar tantos assuntos e argumentos em tão pouco tempo, mas ofereceram pistas importantes para todas problemáticas abordadas.
No todo, detiveram-se, mais de uma vez, em um conceito e uma atitude que o Centro da Obra vem testando e cuja validade vem comprovando desde o falecimento de Chiara: encontrar as respostas, caminhos, soluções, perspectivas e possibilidades a partir da comunhão profunda, intensa entre todos, horizontal e verticalmente, isto é, incluindo os que estão ou não à frente da Obra.
Breno Sobral, adolescente de Olinda, Pernambuco, ficou entusiasmado com o que vivenciou durante aquelas sete horas de encontro: “Maravilhoso! Eu acho que foi uma das maiores experiências da minha vida!”. E para Emmaus, mandou um recado: “Gostaria de dizer que você está indo muito bem como nossa presidente. Você merece o lugar que tem e nós estamos juntos, pela santificação de Chiara”.
20140329© Mendes - CSC 3223Atmosfera de catedral – O encerramento com uma missa transformou o Teatro Guararapes em uma catedral. A imagem no telão era da nave dourada de uma igreja barroca, construção frequentemente encontrada nas capitais nordestinas. Presidiu a celebração o bispo Dom Dino Marchió, de Caruaru, que representou também o de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, que esteve com Emmaus e Giancarlo em outra ocasião durante a estada deles em Pernambuco.
Concelebraram 20 sacerdotes e três diáconos. Uma das leituras do Antigo Testamento narrou a investidura de Davi de sua missão. O salmo exaltava a Providência que não deixa faltar nada aos fiéis. O Evangelho recordou a cura de um cego. A homilia lançou luzes sobre a adesão ao Ideal que, de fato ilumina, investe cada um e cada uma de uma força impensável e conduz a história individual e coletiva da santidade.
Clima de amor – Foram inúmeros os sinais do clima de amor recíproco que se instalou de entre todos do início ao fim daquela tarde e noite de sábado: banheiros limpos o tempo todo; crianças de colo dormindo na plateia; adolescentes auxiliando idosos no sobe e desce das escadas; serenidade entre aqueles que realizaram os trabalhos mais delicados como transmitir o evento ao vivo pela internet e as redes sociais; discrição entre os fotógrafos e câmeras, entre os jovens que fizeram a cobertura com os celulares; silêncio e solenidade também por trás das cortinas, nas cochias; sabedoria em cada pequeno detalhe; serenidade até quando faltaram partículas consagradas para a comunhão; uma banda que não fez espetáculo, mas envolveu a sala em “um único corpo, uma só alma”.
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Atitudes, palavras, melodias, letras e imagens ressaltaram a beleza do Ideal resplandescente nesta região à qual Emmaus e Giancarlo se disseram gratos pelo tanto que vem doando à Obra, à Igreja e à humanidade. “Exatamente por essa generosidade, espero tudo e muito mais deste povo, desta gente”, afirmou Emmaus. “E todas as mudanças que ocorrerão na Obra no Brasil nos próximos anos devem justamente desenvolver as potencialidades desta, com das demais regiões”, acrescentou Giancarlo.
Frutos e impressões – Para Emmaus, Giancarlo, sua comitiva e os integrantes do Movimento no Nordeste, os próximos dias, seguramente, serão de coleta e avaliação do que se viveu no Centro de Convenções, naquele sábado, e em outros tantos espaços e momentos desta última semana: na Mariápolis Santa Maria (onde fica a sede regional da Obra de Maria), no Pólo Ginetta (“farol” do Nordeste para a Economia de Comunhão); na Ilha de Santa Terezinha (comunidade onde o focolare está presente há mais de 50 anos), na Universidade Católica de Pernambuco e na Associação Caruaruense de Ensino Superior (que lançaram a Cátedra Chiara Lubich) e na Câmara Municipal de Igarassu (que concedeu a “chave da cidade” aos sucessores de Chiara).
Por Andrea Moreira