“FRATERNIDADE: princípio mobilizador para respondermos juntos as demandas das ruas” foi tema de um evento promovido pelo Movimento Político pela Unidade (MPPU), no dia 9 de novembro, no Plenário Ana Terra, na Câmara de Vereadores de Porto Alegre (RS). Mais de 100 pessoas acompanharam o diálogo com a Ministra Maria do Rosário (PT – Secretaria de Direitos Humanos), o Senador Pedro Simon (PMDB) e a Deputada Federal Luiza Erundina (PSB).
“Nossa vontade sempre foi a de nos oportunizar um diálogo franco, aberto e qualificado entre o poder público (Executivo e Legislativo) e a sociedade, tendo como pano de fundo os desdobramentos vivenciados a partir das manifestações de junho até os dias de hoje e as necessidades e perspectivas de respostas ainda necessárias às demandas que permanecem. O que vimos e vivenciamos durante o encontro confirmaram todas as nossas espectativas. Foram três horas de um diálogo qualificado, com muitos questionamentos, algumas propostas e o forte desejo de avançar neste processo”, escrevem os organizadores.
A Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário abriu novas perspectivas para a fraternidade para além das relações entre os políticos. Com a visão dos direitos humanos, ela falou da fraternidade como princípio humanístico entre as relações institucionais e entre as pessoas. “Possuímos níveis insuportáveis de violência entre as pessoas, ou entre grupos, e a fraternidade pode dizer muito para essa realidade”, argumentou. Segundo ela, a fraternidade como princípio político não se resume a forma com a qual nos relacionamos, mas é a capacidade de servir a população. “Não se pode ser fraterno somente entre iguais, entre os que foram eleitos. É preciso agir com fraternidade, servindo a causas justas. Ser defensor de direitos humanos é ter como princípio o cuidado com a humanidade representada em cada pessoa. Na declaração universal, os princípios de direitos humanos se relacionam com a fraternidade, e são universais. Ou os direitos humanos são universais ou não são direitos humanos”, afirmou a Ministra. Para ela, o único critério para que alguém seja detentor de direitos humanos é a sua condição humana. “Eu traduzo o princípio político da fraternidade em torno dos direitos humanos como estão constituídos e reconheço igualmente no princípio da fraternidade e nos princípios de direitos humanos a interdependência”, pontuou.
Já o Senador Pedro Simon destacou o fato novo da política com o povo novamente nas ruas, em especial, os jovens, que, armados com novos recursos da comunicação, criaram uma mobilização capaz de vencer a inércia das instituições políticas. “O povo não deve esperar nada do Congresso Nacional, nada do Supremo Federal e nada do Executivo. É o povo na rua que pode fazer as modificações. Foi assim nas ‘Diretas Já’, no fim da ditadura. Saímos com os jovens nas ruas”, lembrou o Senador.
Por fim, a Deputada Luiza Erundina sublinhou o fato de que o Movimento Político pela Unidade no Brasil está realizando um salto histórico, passando da etapa do anúncio para a etapa da realização da fraternidade na história. Esta foi a sua surpresa, pois já com o título, o seminário anuncia uma nova estratégia do Movimento Político pela Unidade, a fraternidade como princípio mobilizador, inserida nas demandas dos jovens que continuam nas ruas. “Anima-me muito ver o salto que o Movimento dos Focolares, através do Movimento Político pela Unidade, dá na sua estratégia de existir no mundo e se realizar na história ao perceber que o Ideal da Unidade não se realiza nos ambientes agradáveis de canções e de orações. Isso se testa, se realiza, se concretiza ou não se concretiza no mundo, é na rua, é na luta com o povo, é vivendo as contradições e injustiças que o povo vive”, declarou Erundina. Ela ressaltou a importância da preocupação em discutir a fraternidade como princípio mobilizador e tentar ler o recado das ruas com a linguagem das ruas e dos jovens. “Chiara (Lubich) era atenta às demandas deste mundo e estimulava estarmos atentos para as demandas das cidades e da sociedade. A política tem que responder a estas demandas, mas tem que ter clareza de que demandas são essas. Vejo com grande alegria que o Movimento Político pela Unidade não fala de forma abstrata da fraternidade, mas procura puxar para o real fazendo uma leitura sobre aquilo que os jovens estão dizendo. Isso supõe uma atitude do Movimento, uma estratégia para agir diante desta realidade de forma organizada, politizada, planejada e consciente. É esse o desafio que se coloca para nós, nos dias de hoje, enquanto Movimento Político pela Unidade”, afirmou a Deputada, que complementou: “Temos que fazer isso de forma plural, suprapartidária. Identificar quem quer vir construir essa saída para uma realidade que está gritando, reclamando, querendo mudanças concretas e juntar nossas forças, onde estivermos, articulados com os partidos, as lideranças políticas e as instituições que queiram dar uma resposta a essas demandas. Esta é uma ação política e como diz filósofa Hannah Arendt, ‘ação política é uma ação de sujeitos coletivos’. Isso significa que não é de ninguém individualmente. O Movimento Politico pela Unidade é uma organização de sujeitos livres querendo mudar o mundo, mas para mudar o mundo precisa estar junto com o mundo, dentro do mundo, construindo a história, transformando-a naquilo que ela já envelheceu em não dar conta de um novo tempo que está emergindo nos nossos dias”.

O resultado do encontro, que teve uma intensa participação do público presente dialogando com os políticos convidados, foi fruto de um trabalho prévio construído pelos organizadores. “Para a preparação foram vários, profundos e agradáveis os momentos de conversa para organizarmos e pensarmos cada detalhe, deste o título, o folder, a chamada do evento no Facebook, os convites, até chegarmos ao momento do diálogo. Foram momentos fortes de vivência fraterna. Por exemplo, tanto para a definição do título como para o folder, mesmo após muitas conversas, estava difícil chegar a um denominador comum, pois as ideias e os argumentos em defesa ou contra eram todos válidos e fortes. Um dos jovens que participa ativamente das mobilizações de rua que ainda acontecem em Porto Alegre deu importantes contribuições do que seria ou não bem aceito pelos jovens. Igualmente fundamental foram as sugestões dadas pelos nossos políticos, justamente porque vivem e conhecem este ambiente. Mas a beleza deste processo foi perceber que esses fatos apenas fortaleceram em nós a certeza que a fraternidade tem, sim, um papel fundamental no processo político, especialmente nos relacionamentos e no diálogo”, contam.
“Esse encontro nos possibilitou um forte aprendizado de que é preciso ir ao encontro da soceidade para conhecer, dialogar, escutar, aprendendo os significados de sermos fraternos na política, deixando que a vida desfaça ou apague os pré-significados que esta palavra carrega na mente e no coração do povo”, concluem os organizadores do evento.