Garanhuns, no agreste de Pernambuco, depois de 11 anos, voltou a ser palco da Mariápolis, como nos primeiros tempos do Movimento dos Focolares no Brasil, nos anos de 1960. A Cidade das Flores, de clima ameno e povo acolhedor, recebeu os 960 mariapolitas de Pernambuco e Alagoas, entre 30 de maio e 02 de junho. Na abertura festiva, o rufar de mais de 10 tambores encheu a sala e a saudação do prefeito do município, Izaías Régis (PTB), demonstrou o quanto esse evento mobilizou a cidade.
A presença dos bispos de Garanhuns, Dom Fernando José Monteiro Guimarães, e de Caruaru, Dom Bernardino Marchió demonstrou a importância desse evento também para a Igreja Católica, berço do Movimento dos Focolares. Ambos evidenciaram as últimas homilias do Papa Francisco sobre Maria, em sintonia com o momento especial de mudanças que a Igreja experimenta na atualidade. Uma sintonia reforçada pelo caráter ecumênico do encontro que incluiu, na programação, o estudo bíblico com os evangélicos presentes.
Da Itália, chegaram mensagens da presidente mundial do Movimento dos Focolares, Maria Voce (Emmaus), de um dos fundadores da Obra no Brasil, Marco Tecilla, e de duas focolarinas brasileiras que estão no Centro Internacional do Movimento, em Roma: Vera Araújo, natural de Camaragibe (PE) e há mais de meio século na Europa, e Darcy Rodrigues, natural de Pesqueira (PE) que se mudou para lá em 2008. Nos momentos finais da programação, os organizadores leram a resposta que um grupo de mariapolitas escreveu a Emmaus: Com a força que você nos transmitiu, retornaremos para as nossas casas, felizes e prontos a amar muito mais.
As próximas Mariápolis do Nordeste serão: em Itabaiana (SE), de 13 a 16 de junho, e em Guaramiranga (CE), de 28 a 30 de junho. Os Estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba realizarão um programa de visita às cidades do interior neste período.
Tema central – O Amor ao Irmão foi o tema central da Mariápolis e a proposta de vida (lema para aqueles dias e sempre): Que ninguém passe em vão ao nosso lado. Dentre outras reflexões, os mariapolitas aprofundaram a figura deste próximo, o irmão, destinatário do nosso amor e sobre os pontos da Arte de Amar, ilustrados pela própria Chiara Lubich, em seu discurso proferido em Santiago de Compostella, na Espanha, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, em 1989.
Além de comentadas, as reflexões foram sempre ilustradas com experiências e antecedidas por um momento artístico, no qual se recordavam as primeiras páginas da história do Movimento. No terceiro dia, leu-se uma memorável poesia em que Chiara compara o amor a um fogo que invade os corações em perfeita fusão e quer unir conquistando todos para Deus.
Experiências dos mariapolitas Na ilustração dos temas, os próprios mariapolitas compartilharam experiências da vida cotidiana como a de um jovem que, ao se deparar com duas pedintes brigando, na frente de um banco, procurou intervir na situação para construir a fraternidade entre elas; outro jovem contou ter notado que estava sendo seguido por um homem e, ao entender que se tratava de um próximo a ser amado, procurou estabelecer com ele um relacionamento; era Páscoa e o jovem partilhou com ele um ovo de chocolate, o primeiro que aquele homem teve a chance de experimentar.
Também foram marcantes os relatos de vidas inteiras dedicadas ao Ideal da Unidade ou a história de superação de uma senhora na luta contra doença grave, contada no último dia, que comoveu e deixou, nos mariapolitas, uma convicção: As experiências partilhadas me dão a certeza de que é possível fazer o que é dito e ensinado aqui, afirmou Luíza Maria da Silva Almeida, 18 anos, estudante de Arapiraca (AL), estreante na Mariápolis.
Atenção concentrada – Diante das reflexões, depoimentos e momentos artísticos, houve sempre uma grande atenção no salão (uma quadra), surpreendente pela composição variada do grupo, tanto em procedência, quanto em idade, grau de instrução, ocupação e situação social e com uma participação expressiva da juventude: um terço do total. A Mariápolis é essa junção de cultura e fé: muitas pessoas unidas e fazendo a diferença numa sociedade que precisa acreditar mais nela, respeitar-se para acreditar em si mesma e amar o próximo, definiu Iluska Machado, 24 anos, proveniente de Arapiraca (AL) e mariapolita pela primeira vez.
A maioria dos 300 jovens (250 deles), como Iluska, ficou hospedada na Fazenda Esperança, a 28 km de Garanhuns, um espaço cedido para a ocasião pelos internos que passam ali um período para se recuperar das drogas. Foi emocionante porque a gente pode constatar, pelas experiências de vida deles, que é possível superar todo tipo de dificuldade e ultrapassá-las vivendo o amor, dia após dia; convivendo com os internos da fazenda, pude também fazer a experiência concreta de não deixá-los passar em vão ao meu lado, assim como sei que não passei em vão ao lado deles, assegurou Everton Alexandre 23 anos, também alagoano, de Maceió.
Programa para os jovens – Na fazenda, os jovens participaram de uma noite de um lual, no primeiro dia, e de um sarau com a apresentação de talentos artísticos no segundo dia: Um verdadeiro show! descreveu Saulo Miranda, relembrando o programa, com apresentações musicais, performances teatrais e circenses. Foi lindo, comovente, afirmou a esposa de Saulo, Emília Miranda, que fazia parte da equipe de apoio e, com os demais adultos, preparou um número musical, como um presente para os jovens. Como mariapolitas de mais tempo, pudemos transmitir a eles a alegria de fazer render a herança que recebemos: o Carisma da Unidade que nos foi comunicado e que queremos traduzir sempre mais em vida, explicou Emília.
Os demais mariapolitas adultos ficaram distribuídos em seis hotéis e no Seminário de São José, próximos ao Colégio Madalena Sofia, onde se realizou a maior parte do programa. Eram famílias inteiras como a de Robson e Cristiane Mendes, que vieram com quatro dos cinco filhos; Tiago e Sílvia Risco, que trouxeram seus pequenos Joaquim e João; Augusto e Andréa Albuquerque, que vieram com sua Mariana, de 21 anos. São oportunidades de conviver, em família, em um ambiente sadio, onde as pessoas procuram se querer bem e querer o bem umas das outras, ressaltou Andréa.
Grupos e oficinas – Além dos momentos de reflexão, a Mariápolis incluiu encontros de grupos e duas sessões de oficinas sobre a família, a sexualidade, a ética, a religião, a mídia e a felicidade. Nos pequenos grupos, a orientação era compartilhar a compreensão individual e coletiva dos temas e depoimentos apresentados na grande sala, promover a comunhão e o intercâmbio de experiências entre todos. A Ética e o Amor ao Irmão – valores, respeito e convivência entre diferentes; Fé e Diálogo: foram os títulos das duas oficinas que reuniram, cada uma, mais de 200 participantes nos dois dias de programação.
O psicólogo Fernando Palhano facilitou a oficina sobre a Felicidade que contou com 200 inscritos (nas duas sessões). Da oficina, a mineira Maria Ignez de Melo, 58 anos, saiu ainda mais convicta de que é preciso estar presente aqui e agora e ser amor para quem está diante de nós, afirmou. Na oficina da comunicação, os 100 participantes (nas duas sessões) desenvolveram um texto coletivo a partir da exibição de imagens em torno do tema Mídia / Internet: influência nas relações sociais.
A oficina voltada para a família teve mais de mais de 400 inscritos nas duas sessões. O objetivo era abordar as diferenças que naturalmente existem no relacionamento entre as diversas gerações que constituem o núcleo familiar. Foi muito produtivo porque houve a participação de todos, expondo suas experiências e esclarecendo dúvidas, avaliou Jefferson, com Paula, coordenadores do Movimento Famílias Novas, expressão do Movimento dos Focolares nesse âmbito específico.
Outra oficina numerosa foi aquela que suscitou as discussões em torno da sexualidade. A perspectiva foi abordar as diferenças de personalidade e modos que definem o ser feminino e masculino. Nessa oficina, evidenciou-se a participação dos jovens que se detiveram nos aspectos concretos das diferenças verificadas no dia a dia das relações sociais. Creio que eles e elas se identificam muito com esse tema porque estão justamente na etapa de confirmar a própria identidade, explicou Soraya Peixoto, psicóloga, facilitadora da oficina, ao lado do marido, o médico Carlos Pessoa Lessa.
Fragmentos de fraternidade Um painel apresentou experiências de fraternidade protagonizadas pelo Movimento em diversos âmbitos: a atuação da Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente (AACA), há mais de 10 anos presente na Comunidade da Ilha de Santa Terezinha, no Recife; o projeto de Educação da Paz, gerado na Escola Santa Maria, localizada no território do Centro Mariápolis (centro de formação do Movimento para o Nordeste); os estudos e a ação da Rede Universitária de Estudos da Fraternidade (RUEF), que já completou oito anos promovendo essa abordagem no universo acadêmico.
Também foram compartilhadas a experiência de um membro do Movimento na gestão da educação pública, no município de Monteiro, na Paraíba, além das iniciativas em torno da Semana do Mundo Unido que, em sete estados nordestinos, envolveu mais de 15 mil pessoas em torno do projeto de criação de um Observatório Mundial da Fraternidade junto à Organização das Nações Unidas (ONU). E ainda: ações pontuais de auxílio a famílias necessitadas, promovidas por integrantes do Movimento Famílias Novas.
Mariapolital Na noite do sábado, fazia frio, mas a sala parecia aquecida pelo calor e a alegria de todos. Os jovens já não cabiam mais neles: cantavam, dançavam, curtiam a festa que já é um costume nas mariápolis: o Mariapolital uma espécie de espetáculo amador em que os próprios mariapolitas recordam, de modo descontraído, cômico, fatos que viveram durante os dias de encontro, situações cotidianas que colocam em teste o que a espiritualidade da unidade propõe.
No dia seguinte, na despedida, a reflexão levou os mariapolitas a compreender que o amor vai além da dor, que a noite do nosso sofrimento pode ser também um período que antecede um novo dia. A noite da nossa dor pode ser escura, mas é verdade também que, quanto mais escura é a noite, mais nítidas brilham as estrelas, explicou o apresentador no último tema.
Seguiram-se experiências que ilustraram como superar as dificuldades e permanecer em doação, mais uma vez, para que ninguém passe em vão ao nosso lado. Se fazeis o bem e suportais o sofrimento, isto vos torna agradáveis a Deus: a frase da primeira carta de Pedro foi a Palavra de Vida escolhida para encerrar a Mariápolis que deixou impressões de luz, força e esperança nos participantes.
A Mariápolis é uma aprendizado, uma renovação e uma abertura para nos doarmos e aperfeiçoarmos a nossa condição de deixar o egoísmo de lado e amar (Thiado Costa, 24 anos, estudante, Ribeirão/PE).
Foi minha primeira Mariápolis e o que mais me encantou foi entender o Carisma da unidade: SER UM é viver verdadeiramente o Evangelho, o que se resume em amar o próximo como a mim mesmo, fazer o bem a todos, fazendo o bem também a mim (Jorge Luiz de Souza, 25 anos, estudante, Arapiraca/AL).
Vim aqui para aprender a melhorar no convívio com as pessoas, como em outros anos, e consegui; essa é a minha terceira Mariápolis. (Iazías Barcelar, 16 anos, estudante, Recife/PE)
Antes de vir, estava intrigada de um amigo que também veio para a Mariápolis; movido pelo Evangelho, decidi dar a ele uma chance de recomeçar; ele, por sua vez, também teve a coragem de vir ao meu encontro, o que me encantou e nos aproximou outra vez. Também me tocou muito a atmosfera de unidade que experimentamos na Fazenda Esperança: foi maravilhosamente fantástico (João Paulo dos Santos Nascimento, estudante, 19 anos, Luziápolis/AL).
Por ser da cidade, estive envolvida com a preparação e vivi, desde antes, o clima da Mariápolis. A certo momento, tive que ir ao trabalho e me senti um pouco fora de sintonia; senti um vazio, uma saudade grande do que estava vivendo na Mariápolis. De repente, me veio em mente a frase de Chiara: Uma cidade não basta! Comecei a entender que preciso levar o Ideal para além da Mariápolis, para minha cidade. (Cíntia Fernandes, 30 anos, Garanhuns/PE)
Ao chegar em Garanhuns, deparei-me com o desafio destas frases: Que Ninguém Passe em Vão ao Meu Lado, Devo amar o próximo, como a mim mesma. Em um dado momento, alguém falou esvaziar-se e surgiu no telão a palavra desafio. E para mim é assim: amar os meus mais próximos é super fácil, mas este amor a todos é muito difícil. Aqui, entendi que tenho de me livrar da minha vaidade, do meu orgulho, para amar o diferente de mim. Isso é amar o Jesus Abandonado que me fascina e é Ele quem vai me dar força, a perseverança e a paciência para fazê-lo. Aqui, eu acordei, renasci. (Ana Amélia Vasconcelos Passos, 57 anos, psicóloga, Palmeira dos Índios/AL)
Sou analista de sistemas, passo o dia inteiro conectado e, quando chego em casa, continuava nesse ritmo. Não participava mais dos momentos em família. De uns tempos para cá, percebi que era demais, passei a cortar esse vício e me reaproximei de minha esposa e meu filho. Aqui, entendi que isso é também não deixar que ninguém passe em vão ao meu lado. (Eloi Barbosa da Silva Jr., 30 anos, analista de sistemas, Arapiraca/AL).
Vim com o coração travado; aqui, fui me abrindo e até me confessei, pela segunda vez na minha vida. Foi um momento muito libertador… Todas as experiências que vivi aqui, especialmente na Fazenda Esperança com os outros jovens, foram amolecendo o meu coração. Tanto que hoje, acordei com o desejo de agradecer a todos os que me fizeram chegar até aqui. Posso dizer que agora estou com o coração aberto para amar a todos. (Roberto Carlos Neto Terceiro, 23 anos, estudante de Direito, Maceió/AL).
A certeza que eu tenho hoje foi de que esta foi uma das melhores decisões que eu poderia ter tomado: vir para a Mariápolis; não tenho sequer palavras para expressar as experiências que vivi aqui. Cheguei até um pouco triste e insegura, mas ao conhecer este Ideal, algo mudou para melhor dentro de mim. Quero continuar neste caminho, conhecer cada vez mais o Movimento, este modo de viver a espiritualidade da unidade. (Janayna Ernesto, 25 anos, estudante de Serviço Social, Arapiraca/AL)
A Mariápolis foi e é uma porta aberta na minha vida. Há 12 anos, meu filho veio para a Fazenda Esperança recuperar-se das drogas e nós participamos da nossa primeira Mariápolis; de lá para cá, nossa família tem recebido graças: ele se livrou das drogas, eu mesmo abandonei a bebida e, hoje, temos uma casa de recuperação em Vitória (PE), inspirada pela experiência feita na Mariápolis, que é a mesma da Fazenda Esperança. Essas tem sido as graças recebidas por nós desde 2001 e, se Deus quiser, virei, no próximo ano, para contar outros frutos. A Mariápolis é a maior cidade que existe porque ela exporta todas as graças que Jesus quer doar à humanidade. (Antônio Silveira, 55 anos, comerciante, Vitória/PE).
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