Enquanto a crise na Ucrânia, que chegou ao colapso, deixa o mundo sem fôlego, e os refletores dos media apontam para tantos outros pontos do planeta como a Síria ou a Venezuela, temos a possibilidade de dialogar com alguns amigos dos Focolares que vivem as tensões da Nigéria, o país mais populoso da África, com mais de 160 milhões de habitantes.

A Nigéria concentra a convivência islâmico-cristã mais numerosa do mundo. Consideram que esta seja a causa dos graves atos de violência que acontecem no País?

A corrupção difundida paralisa o desenvolvimento do Estado e do bem comum. A multiplicidade das etnias é um grande desafio, considerado também uma ameaça. Pelo rápido aumento da população a luta pela sobrevivência torna-se cada vez mais forte. Mesmo assim, nas pessoas, impressiona a capacidade de não desanimar, de aceitar o sofrimento sem perder a esperança, de acreditar num futuro melhor procurando estratégias para o futuro com criatividade.

A religiosidade natural que permeia o ser deste povo africano, às vezes é instrumentalizada por interesses políticos ou religiosos. Correntes extremistas e grupos terroristas, movidos por fins socioeconômicos, históricos e políticos, transmitem ao mundo uma imagem falsa dos conflitos entre cristãos e muçulmanos. 50% da população conflui para o Islã, mais difundido no norte, enquanto os cristãos são cerca de 45%.

Há 25 anos, por impulso do Cardeal Arinze, o Movimento dos Focolares chegou à Nigéria, difundindo-se em várias regiões. Atualmente conta com 5.490 membros, numa rede de 28 comunidades locais no País. Caracteriza-se por um forte empenho voltado para o testemunho de valores espirituais, humanos e éticos. O Movimento, colhendo as profundas raízes espirituais dos nigerianos, faz com que a fé se traduza em vida concreta em todos os âmbitos: na escola, no trabalho, no mercado. Este empenho contribui para o bem-estar social e da saúde.

O horizonte natural, nesta terra rica de etnias, classes sociais e religiões, é o da fraternidade universal praticada através do diálogo, testemunhando a possibilidade de relacionamentos fraternos e encorajando o povo para ser construtor de pontes. Muitas vezes descobriu-se na diversidade uma riqueza com resultados positivos para a vida pública, criando assim uma consciência cívica e fomentando a opinião pública.

Por exemplo, no centro do país, particularmente exposto a violentos conflitos entre muçulmanos e cristãos, é impressionante ouvir as histórias de “acerto de contas” da fraternidade universal, ao ponto de arriscar a própria vida para salvar membros da outra religião.

Para dar forma à cultura da fraternidade, está nascendo na aldeia de Igbariam um centro de formação e de testemunho. Existem ainda outros projetos sociais: uma escola primária, um ambulatório, oficinas para jovens. A população local participa ativamente nas atividades.