“O mundo precisa de uma terapia de Evangelho”. Esse impulso dado por Chiara Lubich, desde o início dos anos 1950, foi lançado novamente pela atual presidente do Movimento dos Focolares, Maria Voce, com um novo chamado a retornar ao radicalismo evangélico do início. Esse novo chamado está em profunda sintonia – como ela mesma revela – com a vida da Igreja, que tem como aspecto primordial para o próximo Sínodo dos bispos exatamente a urgência de uma Nova Evangelização.
Esse novo impulso foi dado também nos primeiros dias de janeiro de 2012 para seminaristas, sacerdotes diocesanos e religiosos de várias congregações, que se reuniram em duas escolas de formação, na Mariápolis Ginetta, em Vargem Grande Paulista (SP). Foram dias de aprofundamento espiritual, cultural e teológico à luz do carisma da unidade. Entre os participantes estavam quatro bispos: Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, arcebispo de Sorocaba; Dom Anuar Batisti, arcebispo de Maringá; Dom Vicente Costa, de Jundiaí; Dom Francisco Biasin de Barra do Piraí-Volta Redonda; e três fundadores: Frei Hans Stapel, fundador das Fazendas da Esperança; Pe. José Sometti, da Associação Nossa Senhora da Paz, que acolhe menores abandonados e dependentes químicos, e Pe. Renato Chiera, da Casa do Menor.
“Um caminho para os novos tempos” foi o tema do congresso para 260 sacerdotes e seminaristas de várias regiões do Brasil. Como frisou o Pe. Antonio Capelesso, um dos organizadores do congresso, “trata-se de um caminho de forte cunho comunitário, como aconteceu ao longo da história pelo Espírito Santo, que, através dos seus carismas, dá respostas aos desafios do nosso tempo, não de modo intelectual, mas experiencial, com o encontro com Jesus vivo e não com a ideia de Jesus”

“É uma experiência concreta da espiritualidade – disse Dom Anuar – que possibilita não só pregar a Palavra de Deus, mas fazer da Palavra uma fonte pessoal de vida que gera novas comunidades, superando o individualismo que marca a nossa sociedade pós-moderna, da qual não estão isentos os jovens que entram no seminário”.
Foi esse o tom que transpareceu da profunda comunhão escrita deixada pelos seminaristas antes de partir. Alguém definiu a experiência daqueles dias como “muito mais do que uma caminhada rumo ao sacerdócio, uma caminhada rumo ao amor, amor que encontro no Mestre que está e se manifesta em nós”. Há quem superou dúvidas de vocação. Muitos falam de “uma profunda redescoberta de Deus, de uma luz”, “um retorno ao primeiro amor”, com o empenho de “levar a Palavra e ser Palavra com o propósito de crescer na vida de comunhão”.
É exatamente em relação à comunhão que está se realizando “a grande transformação” nos seminários brasileiros: “de grandes a pequenas comunidades, nas quais se estabelecem relações mais pessoais entre seminaristas e formadores”, como afirmou Dom Anuar. “Neste contexto – acrescentou – na medida em que os seminaristas vivem esta vida nova que desabrocha do Evangelho vivido, Jesus se modela neles, dando-lhes coração de pastor, de modo que, saindo do seminário, não só façam coisas ou realizem obras, mas sejam antes de tudo homens de Deus em meio ao povo”.
“Ser Palavra viva”
Como se explica que religiosos, nutridos pelo carisma do próprio fundador, possam sorver de outro carisma uma nova vida espiritual? Pe. Pedro Facci do Pime, diretor da revista “Mundo e Missão”, explica: “Viemos aqui para compartilhar a nossa experiência, o nosso carisma, à luz de um carisma que Deus mandou para os nossos tempos e que nos doa uma nova força para viver aquele amor recíproco que gera entre nós a presença viva do Ressuscitado. O primeiro efeito desta ‘Presença’ está no modo como cada um se empenha de forma radical em viver o Evangelho. Isto possibilita um encontro vital com Jesus, que doa novamente o encanto pela vocação, e na dinâmica do amor recíproco se estabelece a comunhão entre os carismas, que demonstra a beleza da Igreja, uma Igreja capaz de fascinar”.
Essa sensação se confirmado na comunhão entre os participantes sobre o que viveram naqueles dias: “Diante de tanta luz percebi mais do que nunca a minha pobreza, minha acomodação. Senti a necessidade de sair de minha mediocridade”. “Uma verdadeira escola de como devo viver na minha comunidade. Volto mais religioso palotino”. “A riqueza desta comunhão dos carismas nos dá uma luz maior que é a unidade”. “Vou viver a Palavra com novo empenho, em vista da comunhão e da santidade coletiva”. “A Palavra encarnada a cada momento será a minha reevangelização para ser instrumento para Jesus reevangelizar os outros”.
Não faltou, nos dois encontros, a atenção aos jovens e a tomada de consciência do desejo de autenticidade presente neles. “Os jovens – evidenciou Dom Anuar – têm sede de Deus, não de um Deus distante, mas próximo, que fala, dialoga, chora e se alegra com eles. Deus é Amor, quem ama demonstra isso, e a vida se transforma. Acho que este é o caminho novo, o grande desafio da nossa pastoral com os jovens. Um caminho na Igreja, na comunidade, não individual, mas coletivo, para que se possa crescer na experiência pessoal com Deus”.
A experiência vivida por seminaristas, sacerdotes e religiosos confirma que “nos ‘tempos novos’, atuais, se concretiza cada vez mais o aspecto da Igreja do Concílio Vaticano II, a 50 anos do seu início”, como evidenciou Pe. Alexander Duno, responsável pelos seminaristas que aderem ao Movimento dos Focolares. É aquela Igreja-Comunhao, que ao lado do perfil institucional petrino, evidencia, aos poucos, aquele perfil mariano que João Paulo II definiu “co essencial” para a missão da Igreja, e que o Papa Bento XVI delineou desde o início do seu pontificado (25.3.2005): uma Igreja em que “as duas dimensões, mariana e petrina, se encontram naquilo que constitui a realização de ambas, isto é, no valor supremo da caridade para a edificação da Igreja como “comunidade de amor”.