Testemunho cristão em um mundo plural. Foi com esse lema que se realizou o Simpósio Ecumenismo e Missão, promovido pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), na Mariápolis Ginetta, em Vargem Grande Paulista (SP), entre os dias 21 e 24 de agosto. O evento, que contou com a participação de 100 pessoas, foi organizado em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e com as Comissões do Ecumenismo, do Laicato e da Ação Missionária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O Simpósio foi aberto com uma celebração, que contou com a participação das igrejas do CONIC: Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Católica – CNBB, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Ortodoxa Síria.
Permeado de momentos de espiritualidade foi feito um resgate da caminhada histórica do movimento ecumênico no Brasil, recordando a Conferência do Nordeste e o Concílio Ecumênico Vaticano II.
O pastor da Igreja Luterana no Brasil, Zwinglio Motta Dias, destacou a importância da Conferência do Nordeste para o mundo protestante no início dos anos 60. A Conferência do Nordeste ocorreu no Recife, em 1962, em uma conjuntura internacional peculiar e foi um momento significativo que trouxe à tona os esforços de mobilização social. Pela primeira vez na história do protestantismo, os protestantes contaram com apoio da academia. Ele destacou que o protestantismo não foi capaz de perceber a dimensão social, cultural e nacional que era muito diferente dos Estados Unidos. Foi o desafio da realidade – injustiça e luta social – que levou à compreensão de um ecumenismo político, muito mais por jovens das igrejas que dos setores institucionais. “A Conferência do Nordeste foi derrotada pelas igrejas. Após o Golpe Militar voltou-se à velha pequenez de um moralismo inconsequente que fechava-se à Graça do Cristo. Mas o Brasil democrático, hoje, só se tornou possível por causa das pequenas lutas do passado”, lembrou o pastor.
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O professor Joanildo Burity, da Fundação Joaquim Nabuco, enfatizou a caminhada histórica destacando, além da Conferência do Nordeste (1962), o  Evangelho Social (1914), o Socialismo Religioso (1919), a Igreja Confessante (1938), a “Sociedade Responsável” (Assembleia constitutiva do CMI 1948).
O padre Oscar Beozzo destacou que é fundamental olhar para a longa caminhada da igreja que se abriu para o diálogo com o mundo. Ele lembrou a data de 5 de junho de 1960, quando surgiu o secretariado para a unidade dos cristãos que teve  como secretário o Cardeal Agostinho Bea. “Isso foi uma porta da igreja para o diálogo porque até então a igreja não tinha uma interlocução com as igrejas cristãs”, analisa.
Debates a partir das temáticas expostas conduziram para outro momento em que foram apresentados uma análise e um diagnóstico dos desafios para o ecumenismo. Este momento teve a contribuição da Ir. Ignes Costalunga que refletiu sobre a complexidade do mundo em que vivemos. Perguntava o que há em nossas instituições? O que significa fé sim, Instituição não?
Também o pastor Roberto Zwetsch enfatizou que, em relação ao Brasil dever-se-ia perceber a grande ascensão de igreja Católica e também de igrejas do protestantismo histórico que têm consequências para a prática do ecumenismo e da missão.
O documento “Testemunho Cristão num mundo plural” – recomendações sobre a prática do testemunho – foi objeto de estudos para trabalhos em grupos. O documento foi apresentado pelo pastor Walter Altmann que destacou a sua importância que, pela primeira vez na história, foi elaborado em conjunto pelo Conselho Mundial de Igrejas, pelo Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e pela Aliança Evangélica Mundial. Ao final da explanação do documento, foram lançadas três perguntas que fizeram os participantes refletirem sobre a relação entre missão e ecumenismo. As questões chamaram atenção para o contexto plural, as agendas múltiplas, os direitos humanos, sociais, culturais, econômicos e ambientais.
Palestras com os temas “Bíblia e missão” e “Missão e ecumenismo: documentos, perspectivas de ação comum” foram os últimos elementos trabalhados para elaboração de um documento comum entre os participantes com o título “Testemunho Cristão brasileiro em um mundo plural”.
A professora Wanda Deifelt apresentou o tema, revisitando metodologias missionárias a partir dos Atos dos Apóstolos. Lembrou o (des)encontro entre as religiões a partir de John Hick (filósofo da religião e teólogo) que menciona três modelos de interação: exclusivismo (em que o outro é demonizado e deve ser subjulgado à verdade da religião dominante ou colonizadora), inclusivismo (em que os aspectos de outras tradições religiosas ou filosofias de vida são interpretados como expressões insipientes da religião dominante), pluralismo (em que há uma diálogo interreligioso enfocando nos aspectos mais comuns/compartilhados, ou seja, aquilo que nos une e não o que nos separa).
O biblista Carlos Mesters ajudou os participantes a responder a questão de como anunciar Deus hoje. Dizia que “uma nova experiência de Deus não vem com a razão, mas vem pelos pés”. “Muito mais que falar sobre Deus é viver à maneira de Deus. A Boa Nova é descobrir o rastro de Deus. Para agir no mundo é preciso olhar de perto como Jesus foi “missionário de Deus”. Alguns traços fundamentais de Jesus que passam a ser elementos fundamentais para a missão cristã no mundo. Vejamos: Jesus acolhe os excluídos, sobretudo os doentes; Jesus vai ao encontro da pessoas e chama para segui-lo; Jesus reconstrói a vida comunitária nos povoados da Galiléia; Jesus recupera a dimensão caseira e festiva da fé; Jesus recupera a igualdade entre homem e mulher; Jesus supera as barreiras de gênero, religião, raça e classe; Jesus recupera o humano universal”, elencou Carlos Mesters, que fez ainda uma reflexão sobre a prática missionária na época do cativeiro bíblico e hoje.
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Na parte final do simpósio foi feito um trabalho em grupo para ler e destacar elementos para um testemunho cristão em um mundo de pluralismo religioso.
Uma celebração ecumênica com destaque para a unidade na diversidade concluiu o Simpósio Ecumenismo e Missão, acenando para momentos importantes que deverão contar com o empenho dos participantes: a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2015 que será preparada pelo Brasil e a Campanha da Fraternidade de 2016 que voltará a ser ecumênica.
 
Colaboração: Artur Peregrino
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