«É de manhã, bem cedo, depois de uma noite chuvosa, na fronteira entre a Tailândia e Mianmar. Estamos tomando um pouco de café com ovos cozidos. Está começando a nossa aventura: quatro dias em Mae-Sot, junto com um sacerdote que se ocupa dos refugiados, os últimos dos últimos, aqueles que não entram nos campos oficiais da ONU, de quem ninguém cuida e que muitas vezes não recebem a paga de seus patrões pelo trabalho semanal: eles não têm documentos e não podem protestar com nenhuma autoridade, porque ninguém irá defendê-los. Muitos ficaram durante anos na floresta e finalmente conseguiram sair. Vivem entre as fossas e os muros das fábricas, em barracas improvisadas, vivos por milagre. Sobre eles ninguém fala, mas aqui essa realidade é conhecida: eles valem ouro! São uma força de trabalho com um custo baixíssimo, pessoas dispostas a trabalhar por muito pouco, só o necessário para viver. E é por esse motivo que Mae-Sot irá se tornar uma zona econômica especial, com a presença de muitas indústrias.
Nós queremos estar aqui ao menos por alguns deles. Começamos um projeto para ajudar as crianças de uma escola que até pouco tempo atrás não existia, a não ser nos sonhos das crianças de Latina e de seus amigos, refugiados em Mae-Sot.
Agora essa escola existe e chama-se Gota a gota. Uma parceria incrível entre Latina e a lama de Mae-Sot: injustiças, doenças, desfrutamento, estupros e assim por diante; quem está bem e quem agradece a Deus por estar vivo, a cada manhã
e no fim de cada dia! Como uma das crianças da escola. Pergunto à sua mãe: Como é o nome de seu filho?, e ela: Chit Yin Htoo, que significa se me amas, responde-me. E a data de nascimento?, pergunto. Talvez três ou quatro anos, ou talvez cinco ou seis
Era a época da colheita, no auge da ofensiva militar, devíamos fugir, só fugir. A este ponto eu paro e não consigo mais escrever, e espero somente não chorar diante dessa mãe. Como é possível?
Este projeto é uma loucura de amor, que somente as crianças podiam conceber. E o amor é assim: faz florescer o deserto, faz você fazer coisas impossíveis e o faz feliz! Nós, adultos, vamos atrás dessas crianças com respeito e sagrado temor, eu diria: Os seus anjos veem o Pai nos céus. Quando estou com Se me amas, responde-me dificilmente o faço sorrir. É tímido, reservado, e somente depois de muito tempo consigo pegá-lo no colo: seis anos, talvez cinco, ninguém sabe ao certo frágil e leve como uma folha. Estes olhos o que terão visto? Com um fio de voz consegue emitir uma mensagem. Parece de cristal. Distribuímos comida, leite, e principalmente bonecos e brinquedos a todos os que estão ali, também lanternas e roupas, que os deixam felizes. Não temos para todos, mas pedimos um milagre, digo a eles, que consigamos amar-nos e preocuparmo-nos com os outros, como com nós mesmos. Os olhos brilham quando veem uma bola e todos os uniformes de um time, que foram mandados por uma escola de futebol de Priverno (Itália). Quanto amor chega até aqui! Essas crianças estão felizes porque sentem o calor que está por baixo de cada coisa. É isso que muda os seus olhos tristes.
A escola não tem paredes de verdade, tem as lousas quebradas, os professores são voluntários a quem conseguimos dar apenas 50 euros por mês, como salário, tem umas cortinas de tela, os banheiros
Tenho a impressão de estar num santuário de amor, numa catedral talvez como aquela que também o Papa Francisco sonha?
Anos atrás fiz uma promessa: que esse é o meu povo e que jamais o abandonarei. Diante dessa escola, essa gota de amor no oceano do mal que nos circunda, renovo aquela promessa».
Luigi Butori