Por Maria Voce (Emmaus)
Como falar de Vale em poucas linhas, ainda comovidos pela sua partida e pela experiência viva de tê-la acompanhado nos últimos tempos em que Deus a preparou para a última viagem, ela que havia feito muitas? Seriam necessários livros, e existirão.
Este primeiro grupo de criaturas escolhidas por Deus para seguir Chiara Lubich desde os primórdios do Movimento são um mistério de amor. Tão diferentes umas das outras, mas em comum uma grande unidade com Chiara, uma tal fé adamantina no carisma que Deus lhes deu, uma tal coragem para levar ao mundo o seu e nosso Ideal e um tal amor a ponto de serem inigualáveis, e no entanto imitáveis, tanto que seus exemplos fascinam quem veio depois.
Assim, de modo especial, Vale deu a cada um que a encontrou tudo isso com um estilo todo próprio, que tinha luz, concretude, força da simplicidade evangélica feita vida. E suscitava o desejo de segui-la.
Vale, Valéria Ronchetti, nasceu em 1923 em S. Michele dellAdige, um lugarejo a cerca de 20 km de Trento, onde o pai lecionava num instituto agrário. A minha família disse era uma família cristã, na qual raciocinar segundo o Evangelho era normal. Os meus pais apoiavam os meus desejos, os de uma jovem cheia de vida que amava o esporte, a arte, a escultura, e que bem cedo quis aprender a dirigir automóvel e motocicleta.
Mas confessou ter experimentado uma crise na adolescência, embora ocupada com os seus estudos. Eu não conseguia disse entender por que era preciso estudar, sentia a inutilidade de tudo, porque depois, no final, se morre.
Então, com sua irmã Angelella, rezou a Deus com palavras cheias de fé: Manifeste-se, Senhor, de modo tão claro, irresistível e arrebatador, que eu não possa nem resistir, nem rejeitar você. Nós lemos estas palavras disse ajoelhadas aos pés da cama, com a luz apagada, porque para nós, trentinos, existe uma espécie de pudor ao manifestarmos os nossos sentimentos.
Deus não demorou a responder.
Com a deflagração da guerra, todos os estudantes deviam trabalhar. Angelella encontrou trabalho em Trento num banco; Vale exerceu o voluntariado numa pequena escola de crianças abandonadas.
Foi neste período que Angelella, voltando do trabalho, encontrou Graziella no trem e a convidou-a a ir visitá-las em casa. Graziella falou a elas de Chiara e Vale ficou impressionada com as suas palavras: Por que não viver como as estrelas, todas tão organizadas, todas que se movem na própria órbita, não se chocam e formam um firmamento maravilhoso? E na terra existe a guerra, conflitos
As estrelas não podem agir de modo diferente porque a lei de Deus está impressa na criação. Também em nós existe esta lei, mas somos livres para dizer sim ou não. Por que então não vivermos nós também escutando aquela voz que o Amor acendeu em cada um, nos chamando para a vida? Por que não vivermos também nós Assim na terra como no Céu? Assim nos tornaremos totalmente luz e totalmente chama.
No dia seguinte, Vale montou na bicicleta e sem usar o freio chegou a Trento, na Porta Áquila.
Ela contou: Me disseram: Esta é Chiara. Fui até ela, lhe apertei a mão e pronunciei o lema Luz e chama, um olhar de entendimento que dura até agora. Desde aquele momento, aquela presença entre nós que é o Ideal absorveu em si tempo e espaço. Não é virtude seguir Deus, é Ele que arrasta você.
Vale tinha 19 anos. Nunca mais abandonaria Chiara. Logo se uniu ao pequeno grupo que se encontrava todas as manhãs às 7h, na casa de Chiara ou numa sala perto da Igreja de São Marcos, em Trento. Neve, bombas, perigos… nada as detinham.
Disse: Chiara falava: Deus Pai, nós todos irmãos. Isto nos fazia ir além de tudo. Chiara nos dava cartas de fogo que entregávamos em mãos às jovens que tínhamos conhecido e que por causa da guerra estavam espalhadas pela região. O lema era: Com a velocidade do amor, e quase sempre até o final da tarde todas sabiam tudo.
Escreveu: Este ser que Chiara me mandava comunicar parecia feito justamente para cada pessoa, conseguir fazer com que cada um entendesse como Chiara fez com que eu entendesse o quanto era importante para o amor de Deus a nossa existência.
Nas muitas tarefas que Chiara lhe confiou, Vale viajou pelo mundo inteiro, falou a milhares de pessoas em todos os continentes, e sempre cada um dizia tê-la conhecido pessoalmente e que sentia o coração marcado por este encontro, que era encontro com Chiara nela.
Ela esteve em Bruxelas, na Alemanha para iniciar os focolares de Munique, Colônia; depois na cidadezinha de Ottmaring, em Liverpool, em Fontem na África.
Renata Simon, de Ottmaring, diz: Quantos capítulos da história ideal da Alemanha Vale escreveu! Somos profundamente agradecidos pelo ardor, determinação, sabedoria e originalidade com os quais nos transmitia o carisma.
Aonde ela não chegava fisicamente, chegava a sua vida.
Em Chicago, duas focolarinas foram convidadas para jantar na casa de um diplomata. A esposa, que não sabia nada sobre elas, as acolheu e continuou a fixá-las. No final disse: Vocês me lembram alguém; conhecem uma certa Vale? Através dela, anos antes encontrara a fé e uma nova existência.
Em 1965, foi encarregada de acompanhar Liliana Cosi no seu estágio de balé no Bolshói de Moscou. Liliana queria entrar no focolare e Chiara colocou Vale ao seu lado para que aprendesse a viver a espiritualidade do Ideal no seu trabalho. De modo compatível com os seus compromissos, Vale continuou a segui-la, acompanhando-a na sua primeira tournée na URSS: em Moscou, Riga, Odessa, Tbilisi; depois nos Estados Unidos.
Lilliana disse: Desde o primeiro período em Moscou, Vale me ensinou que tudo é sagrado na vida, se é vontade de Deus: arrumar uma gaveta, ir à Missa, ter aulas de balé
, e tudo ia muito bem.
Durante muitos anos, Chiara lhe confiou o setor das religiosas.
Nenita (Arce), que trabalhou ao seu lado por muitos anos, escreveu: O que marcou a minha alma é o seu convite a (
) viver as cruzes da Obra com a dignidade de Esposa de Jesus abandonado (
) com a coluna em pé, dizia.
Quem viu religiosas voltarem dos encontros com Vale em Castelgandolfo nunca se esquecerá de como em poucos dias conseguia torná-las fogo e chama como ela, lançadas a abrir novos caminhos para o Ideal até na Papua Nova Guiné.
Em 1998, Chiara também lhe confiou, junto com pe. Silvano Cola, o Centro do Primeiro Diálogo, encarregado de cultivar e aumentar o relacionamento de comunhão entre os Movimentos eclesiais. Ela o seguiu até 2008.
Piergiorgio Colonnetti e Anna Pelli, atuais responsáveis, escreveram: O que a animava era o ardor e a sabedoria de alguém que vê, com os próprios olhos de Chiara, desdobrar-se no seio da Igreja um desígnio trinitário que dizia tem em si vida, luz, potência inimagináveis.
Percebia Deus em ação e afirmava: Sim, Jesus quer que os relacionamentos entre os carismas se aqueçam pela sua presença e se tornem casa e escola de vida trinitária (
).
Uma pérola que chegou do Centro Santa Chiara Vídeo, que Vale acompanhou por um período junto com Turnea. Disse a eles: Vocês não são simples técnicos, esta função qualquer um pode fazer. Vocês são servos da luz. Este conceito disseram permeou todos os aspectos do trabalho deles.
Em 2001, se concretizou na Obra a realidade dos conselheiros das Grandes Regiões, e a Europa Oriental foi confiada a Vale.
Das suas viagens, às vezes extenuantes, dos muitos encontros em que se doou sem medidas com um amor pessoal e cheio de sabedoria, deixemos falar Aster Eterovic, uma focolarina croata que foi sua secretária: Eu estava um pouco temerosa ela disse de assumir esta função, mas via que Vale se lançava e dizia quando não era claro como se mover: Não é preciso que eu saiba, basta que Deus saiba. Uma vez, após 20 dias de viagens e encontros, havia uma última reunião. Entrando na sala eu lhe disse: Toda a unidade, você deve estar um pouco cansada, mas é a última. Ela me respondeu com decisão: Como se fosse a primeira. Não fazia pesar nada, mas se movia com o gosto da divina aventura e a alegria da criança evangélica. Desfrutava também dos momentos de descanso, sabia se deleitar com a paisagem, nunca comparando uma região com a outra, aceitando os imprevistos como trampolim.
Vale falou frequentemente em encontros para os diversos setores do Movimento. Falando às focolarinas e focolarinos se referiu várias vezes àquele olhar trocado com Chiara. Em 2003 disse: Sinto que devo protegê-lo, este olhar é o Ideal, eu o salvo; depois amo o próximo como Chiara me ensina. (Um olhar que) ainda dura. É a graça extraordinária que Deus me deu; ninguém pode amar a Deus e ao irmão no seu lugar.
Em 2004, Chiara pediu a Vale que assessorasse a Comissão de Sportmeet. Paolo Crepaz escreveu: Todos lembramos o primeiro encontro de que participou. Ao lhe perguntarmos como ela levaria em frente esta realidade que estava nascendo, nos respondeu com desarmante simplicidade e segurança: Quem escreveu hoje para nós? Juntos, com Jesus no meio, lemos os três e-mails que chegaram. Ensinou-nos a nos confrontarmos sobre a resposta a ser dada a cada um. Logo que fizemos isso, disse: Basta fazer assim, não façamos nada mais: não devemos nos antecipar a Jesus. Se fizermos a vontade de Deus, que Ele nos manifesta dia após dia, nascerá também a nova doutrina do Ideal no campo do Esporte. E assim foi.
Em 2009, lembrou que, impressionadas com esta luz nova, as primeiras focolarinas tinham se esquecido de olhar para si mesmas: a luz era mais bonita, mais fulgurante. Deus me ama imensamente, dizíamos é Vale que fala . Nós víamos que a luz passava, convictas de que este amor nos transformava em amor.
Suas cartas são como pequenas joias. A uma focolarina que devia assumir uma responsabilidade, escreveu, entre outras coisas: O importante é fazer o Pacto com Chiara, de manhã, de modo que você não seja só um outro Jesus, mas um só Jesus com Chiara e com toda a Trindade. Este ser garante a qualidade do seu amor continua Vale e ofereça este carisma vivo. Você quase não deve perceber (= não ter preocupações, responsabilidades) quem passa ao lado de sua Chama, mas corra, santa por amor e viva o Collegamento.
Quem esteve ao seu lado durante o longo e doloroso período da sua doença fez a profunda experiência do que o amor nada sufoca. Vale continuou a ser luz e chama até o fim. Quem a acompanhou, contou sobre conversas profundas, sobre novos olhares para colher o imenso amor de Deus.
Em um discurso a um grupo gen, disse: Deus escolheu vocês para dar de presente à humanidade um rastro de luz. Nós queríamos passar pelo mundo e ser o Amor. Então, gen, quando vocês se sentirem desencorajadas, deixem que Chiara lhes sussurre no fundo do coração: Alma que floresces para o Amor de Deus, és bela e não percebes. Vocês dirão: mas neste momento
, e ela repete: Mas justamente neste momento és bela e não percebes.
Eu tive o dom, a graça extraordinária, de estar perto de Vale nos últimos momentos da sua vida. No último dia, fui de manhã, porque soube que estava mal. Ao encontrá-la, estava superando uma primeira crise e, quando entrei, ela imediatamente me cumprimentou dizendo: Chegou a hora.
E eu lhe disse: Vale, a hora do encontro, a hora do encontro com o Esposo! Com a Mãe! A hora mais bonita!
E ela: Sim.
E eu disse: Vim para lhe dizer que partimos juntas se é a hora de partir. E ficamos aqui juntas se é a hora de ficar.
E ela: Sim, é assim, no momento presente.
Depois lhe disse: Vale, posso lhe confiar os jovens, aqueles 14.000 jovens que estarão presentes no Genfest?
E ela: Com certeza.
Eu disse: Gostaria que todos encontrassem aquela luz e chama que você encontrou, ao encontrar Chiara, e que você diz: nunca se apagou, que nunca se apague!
Sim, é assim.
Está bem. Tchau Vale.
Tchau, obrigada!, me disse.
Eu disse: Deixo você com as focolarinas que a assistem.
E ela: Sim, são bravíssimas.
E saí, fui à Missa. Ao sair da Missa, recebi um SMS me dizendo: Vale está piorando. Voltei à casa dela com todo o focolare estávamos na Missa com o meu focolare , fomos todas juntas, a encontramos nos últimos momentos, porém ainda consciente. Fui para perto dela e lhe disse: Vale, estamos todos aqui, estivemos na Missa, rezamos por você. Estamos todos aqui, todos ao seu redor. Aqui está toda a Mariápolis celeste que a espera em festa para acolher você, para lhe abrir a porta! E aqui está toda a Obra do mundo inteiro, que está aqui para acompanhá-la até aquele momento e depois, porém, deixar você ir, porque vai para a alegria plena!
E ela fez um sinal com as pálpebras, como se me dissesse: Sim, e um movimento com a boca como para me dizer: Obrigada.
E assim, enquanto estávamos ali com ela, partiu docemente. Nós a acomodamos.
Chegaram do mundo inteiro numerosas cartas de muitos que contam o que Vale realizou em suas vidas. É um coro de agradecimento a Deus das mais diversas pessoas, da Obra ou não, religiosas e inteiras Congregações, membros e responsáveis de Associações e Movimentos eclesiais, como Ernesto Olivero do Sermig, Chiara Amirante de Novos Horizontes; da Renovação Carismática com Michelle Moran, Oreste Pesare, Matteo Calisi, Salvatore Martinez, ao Mundo Melhor.
Chegou a carta do fundador da Comunidade de Santo Egídio, André Riccardi, que escreveu: (
) Desejo exprimir a todos vocês um sentimento de profunda proximidade na oração e na lembrança afetuosa da querida Valéria Ronchetti, que veio a faltar exatamente hoje, após uma vida longa, abençoada por um intenso empenho pelo Evangelho e pela unidade. Dela, tenho uma lembrança viva e pessoal, pelos muitos encontros acontecidos, sobretudo quando, após Pentecostes de 1998, Chiara lhe confiou o encargo de seguir o caminho de unidade entre os Movimentos eclesiais, de que Juntos pela Europa é o fruto maduro. Portanto, a dor da separação se suaviza na gratidão ao Senhor que nos quis próximos, companheiros de caminhada sobre as pegadas do Evangelho, e que hoje nos torna conscientes de estarmos ainda unidos (
). Com profundo afeto, André.
Mas gostaria de concluir com uma voz um pouco mais distante.
Padre Valentino Ferrari, dominicano, um dos primeiros religiosos da Obra que conheceu e seguiu Chiara desde os anos 50, faleceu no mesmo dia de Vale, deixou numa cartinha escrita a Vale em setembro de 2008.
Caríssima Vale, um dia do distante mês de setembro de 1950, em Roma, na Rua Vinte e Um de Abril, Padre Ermanno e eu tínhamos um encontro marcado com Graziella, e uma focolarina veio nos abrir a porta. Não era Graziella, mas era nos disse Graziella uma alma encantada por Deus; e era você, Vale. Desde então não esqueci mais, e sempre, nos encontros com você, apesar de raros, aquele encanto entrou na minha alma. Obrigado, obrigado, obrigado a você e obrigado a todas vocês, primeiras companheiras de Chiara, por terem servido a ela como berço. Vocês fizeram com que ela crescesse com a escuta de vocês. Ela fez com que vocês crescessem com a sua palavra que as apaixonou. Assim, no século XX foi dado à Igreja um dom mais rico do que os dons acumulados nos séculos precedentes, um dom esplêndido. Esperemos estar com ela na Mariápolis sem véu para onde a Mãe nos atrairá e onde você derá viver para sempre o seu encanto por Deus. (
).
É belo imaginá-los agora juntos passeando pelo Paraíso com Chiara.
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