Foram promovidas no mês de agosto duas palestras sobre Economia de Comunhão no estado da Bahia. Em Salvador, a Presidenta da Comissão Regional da EdC, Maria Clézia Santanta referiu-se ao evento como uma roda de conversa e, a partir de roteiro simples e didático, construiu, com os presentes, os principais conceitos dessa linha de pensamento e ação econômica. A EdC é um modo de concretizar a economia que extrai o que de melhor existe em cada ser humano. Na raiz da EdC estão as relações, aquelas verdadeiras, feitas de gratuidade, reciprocidade e confiança, explicou Clézia.
Sobre a gratuidade, a palestrante ressaltou que não se trata de gestos de altruísmo, filantropia e, muito menos, de assistencialismo. Trata-se de estabelecer uma relação em que cada um se torna um DOM e comporta-se de modo a produzir a reciprocidade, acrescentou Clézia. Uma grande inovação do projeto, segundo ela, é a condução da economia inspirada na cultura da partilha, inclusive dos lucros.
Clézia abordou a origem, a história e as finalidades da EdC que, para ela, são principalmente minimizar as diversas formas de miséria e promover uma dupla inclusão: comunitária e produtiva. A palestrante concluiu sua exposição com as palavras do Presidente da Comissão Mundial da EdC, o economista Luigino Bruni: Que a Economia de Comunhão não se isole jamais, mas continue a sentir o grito dos pobres, o desespero dos oprimidos e se torne cada vez mais uma experiência civilizatória.
Conceitos e novidades – Em Vitória de Conquista (BA), as palestrantes foram as economistas Ana Cassiópia e Ana Matos, ambas do Instituto Chiara Lubich de Inclusão e Comunhão (ICLIC), de Aracaju (SE). Ana Cassiópia apresentou dois conceitos ligados à EdC: fraternidade e a felicidade pública e acrescentou a eles a noção do Amor Mundi, da filósofa Hanna Arendt (1906-1975), segundo a qual devemos amar e nos responsabilizar pelo lugar onde vivemos.
Outra novidade foi a abordagem da formação de novos homens, como preconiza a EdC, em confronto com o pensamento de Paulo Freire e o de Huberto Rohden, tema que vem sendo desenvolvido no ICLIC pela economista e doutora em Geografia, Ana Matos. Para a palestrante, a educação é fomentadora das inteligências múltiplas, que emergem das relações interpessoais e do mais íntimo de cada ser.
Capacidade de leitura – As intervenções das economistas levaram o público a refletir sobre a capacidade de leitura do mundo e o papel do cidadão diante dos problemas de desigualdades sociais e ambientais. Segundo Ana Cassiópia, a nova humanidade exige dos novos homens e mulheres uma mudança radical de homem consumidor contumaz para o do homem fraterno e doador, acrescentou.
A interação entre as economistas e a plateia ocorreu em torno de experiências pessoais, dos conceitos e do histórico do EdC. Entre as experiências, veio em evidência a dos polos empresariais, que reúnem empreendimentos inspirados na comunhão em torno das cidadelas do Movimento dos Focolares, como o Polo Ginetta, nas imediações da Mariápolis Santa Maria, em Igarassu (PE), e o Spartaco, próximo à Mariápolis Ginetta, em Vargem Grande Paulista (SP).
Atuação do ICLIC – Outro ponto em destaque foi a atuação do próprio Instituto Chiara Lubich de Inclusão e Comunhão (ICLIC). Constituído em 11 de agosto de 2011, o ICLIC é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), sem fins lucrativos. Adota o conceito de Economia Civil para apoiar e fomentar ações, relações, regras e instituições da sociedade que privilegiem pela preservação dos contratos, sem descuidar dos princípios da reciprocidade e da ética.
Os objetivos específicos estão detalhados em 20 pontos, dentre os quais a promoção da cultura do dar e da comunhão; o estímulo ao voluntariado; o favorecimento do diálogo entre agentes sociais, empresas e instituições locais, regionais, nacionais e mundiais; experimentação de novos modelos socioprodutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito. No fim do encontro em Vitória da Conquista, o ICLIC distribuiu livretos sobre a EdC que foram editados recentemente.