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Em tempos de ruptura a fraternidade pode ser uma ponte comum

Em tempos de ruptura a fraternidade pode ser uma ponte comum. Diante da pandemia e das incertezas trazidas pela covid-19, poderíamos dizer que estamos vivendo uma ruptura em nosso modo de ver e viver em nossa casa comum. Em momentos de ruptura como esses, que interrogam fortemente o nosso modo de vida, individual, social, político, econômico, institucional, palavras e ideias até então aceitas, podem parecer obsoletas por não responderem ou explicarem o momento presente.

No entanto, momentos de ruptura colocam em evidência o necessário diálogo respeitoso entre as diferentes concepções de mundo, como único caminho possível para buscarmos juntos novas palavras, novas ideias, novas formas e maneiras de nos organizarmos enquanto sociedade, de nos relacionarmos com o mundo. Nesse ano de 2020 celebramos o centenário de Chiara Lubich, que viveu e deu a sua vida pelo Ideal da Unidade da família humana, de cujas raízes nasceu o Movimento Político pela Unidade (MPpU).

Para além das coincidências, a experiência de unidade proposta por Chiara nasce em um momento histórico de ruptura, polarização (entendida aqui como a negação do diálogo) política e falência institucional e de grande dor e desunidade. Essa experiência nasce durante a Segunda Guerra Mundial. Justamente por sofrer na pele e compartilhar desse sofrimento com a sua gente, na sua cidade, é que Chiara e suas companheiras e companheiros (entre eles Igino Giordani, parlamentar e constituinte italiano do pós guerra) encontram, na unidade e nos valores humanos, as respostas para aquela dor.

Essa experiência de Chiara, vivida durante as dores de uma guerra, nos leva (individual e socialmente) a nos questionarmos no hoje histórico em que nos encontramos: diante da polarização política que nos interpela e diante das urgências trazidas por essa guerra ao coronavírus, qual a nossa atitude enquanto pessoas que desejam propor e viver a fraternidade na política? Há poucos dias, considerando esse momento de pandemia, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus alertou para o fato de que problemas políticos como a falta de diálogo ou a incapacidade de uma relação respeitosa entre os diferentes poderes, como os que estão acontecendo no Brasil, são o combustível que poderá intensificar o problema no país.

As disputas pessoais e/ou partidárias que vemos entre o legislativo e o executivo, com alguns dos apoiadores do presidente exigindo a volta do AI-5, a intervenção militar, o fechamento do congresso e do STF (demandas notadamente inconstitucionais, assim como a corrupção), dificultam a necessária harmonia e independência entre os poderes previstos pela constituição. Especialmente em um momento em que essa harmonia, independência e consequente fortalecimento dos Poderes da República (executivo, legislativo e judiciário) se faz mais necessária para o enfrentamento conjunto dos problemas da pandemia.

As diferentes concepções políticas sobre como devemos nos organizar enquanto sociedade são elementos fundamentais de qualquer democracia. Essas diferenças, desde que não sejam contrárias aos valores humanos fundamentais conquistados arduamente durante a nossa história e previstos no arcabouço jurídico dos Direitos Humanos, na Doutrina Social da Igreja e reconhecidos na nossa Constituição, mais do que nos dividirem, devem ser vistas e consideradas como riqueza de toda a humanidade. É justamente através dessa riqueza, do diálogo e de relações (individuais, sociais e institucionais) de respeito recíproco que poderemos buscar e sustentar a necessária coesão social de povo para desenvolvermos juntos um projeto de nação que ofereça uma vida digna para todos os brasileiros.

Nesse sentido, repudiamos todas as manifestações e atos que pretendam resolver os problemas em qualquer dos três poderes instituídos através de caminhos autoritários ou totalitários. Sequer aceitamos que a independência de qualquer um desses poderes signifique o direito de ferir a democracia e seus mecanismos previstos na constituição, apontando para o retorno de instrumentos já vividos em períodos da ditadura civil-militar em nosso país, bem como para o fechamento dos outros poderes. E com igual força, conclamamos toda a sociedade brasileira, sua classe política e instituições, para que através de um pacto recíproco de intenso diálogo e respeito façamos um esforço conjunto para resolvamos nossas diferenças políticas dentro de um quadro necessariamente constitucional, e unamos nossas forças para trabalharmos no combate aos problemas decorrentes do coronavírus, garantindo proteção e saúde a toda nossa gente.

Especialmente aos mais necessitados e invisibilizados que há muito tempo já sofrem as consequências das nossas desigualdades. Acreditamos que a coesão social construída a partir das diferenças, com muito diálogo, suor e paciência poderá gestar a necessária confiança em nós e nas nossas instituições. Confiança para buscarmos juntos novas palavras, novas ideias, novos modos de governo, como por exemplo a cogovernança, que nos possibilite conquistarmos a esperança comum em um futuro que acolha a todas e todos.

 

Flávio Dal Pozzo Presidente do Movimento Político pela Unidade – Brasil

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