No dia de Ginetta, relembre algumas experiências de vida da serva de Deus

Hoje, 8 de março de 2019, relembramos com carinho a vida de Ginetta Calliari, focolarina, hoje serva de Deus, que dedicou sua vida a disseminar o carisma da Unidade no Brasil.

Ginetta nos deixou no dia 8 de março de 2001, mas sua experiência de vida ainda continua viva entre nós.

Abaixo, ela mesma nos conta algumas experiências de amor ao irmão que viveu durante sua caminhada terrena. São trechos extraídos de seu livro.

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Desde quando começamos a ver Jesus nos menores, nos inimigos, nos pobres, os milagres da divina Providência começaram a chover na nossa pequena família espiritual, o focolare. Havia a guerra, toda a cidade estava sem leite e o leite chegava; eram toneladas[1] e toneladas que eram dadas aos pobres e a todos aqueles que pediam. “Dá a quem te pede” [cf. Mt 5,42].

À falta do leite se juntava uma enorme carestia de carne, e a carne chegava a toneladas e toneladas… A toneladas chegava peixe em conserva, farinha, batatas, feijão, ervilha e frutas.
 

“Procurai o meu reino e o resto vos será dado em acréscimo” [cf. Mt 6,33].

E nós procurávamos incansavelmente o Seu reino, e o acréscimo vinha, para nós e para todos os próximos que a vontade de Deus colocava ao nosso lado. Da mesma forma como as coisas chegavam, eram dadas. Nada deveria ficar parado. Eram caixas que entravam e caixas que saíam. De onde vinham estas caixas? De quem dava o supérfluo. Para onde ia o supérfluo? Para quem não tinha o necessário. Andava-se pela cidade de Trento, de casa pobre em casa pobre, com sacolas cheias de alimentos, pacotes de roupas, caixas de sapatos, malas cheias de lenha.

Quando as forças diminuíam, a Providência ia aumentando. Os carrinhos substituíam os nossos braços. O verbo “cansar-se” não se conhecia e muito pouco o verbo “dormir”. O ronco dos aviões de dia e o ronco do Pippo[2], à noite, fazia-nos entender a brevidade do tempo, o valor da vida. Tínhamos a sensação, aliás, a certeza de não ter amado a Deus e, então, queríamos nos dirigir a todo próximo para demonstrar-lhe o nosso amor. No sacrário, ele não nos pedia nada, mas nos seus irmãos, tudo.

Mas Deus não se deixa vencer em generosidade. Eu me lembro uma vez – para dizer que todo o começo é sempre duro -, alguém nos trouxe um pedacinho de carne e a minha companheira estava batendo essa carne, que era como um bife, para uma de nós que estava bem doente. As outras podiam comer pão. E ela foi na janela bater esta carne. Aconteceu que a carne, caiu lá em baixo. Imaginem! Esta minha companheira quando viu a carne cair da janela – havia quatro andares – e parar lá no fundo, no fundo, no barro, ficou olhando a carne e depois viu um gato que estava perto. Então pensou: “Como é que eu faço para salvar aquela carne? Estou no último andar, três andares para chegar até ali, o gato vai comer”.

Então, da janela, ela começou a fazer: “xô, xô”, para espantar o gato, depois ela chamou uma menina: “Vai pegar aquela carne que eu fico espantando o gato”. E ela conseguiu, da janela do quarto andar, espantar o gato enquanto a menina foi procurar a carne, voltou com a carne e conseguiu dar para a que estava doente.

É assim a vida, tudo começa assim. Quantas coisas nós poderíamos contar!…

A casa onde Chiara e algumas das suas primeiras companheiras moravam, ainda em 1944, era um vai e vem de pessoas para dar de comer espiritualmente e materialmente. Vinham os famintos, os abandonados, os fracos, os aflitos, os pecadores. Vinham todos, sem distinção.

“Vinde a mim vós todos que estais fatigados e cansados e eu vos restaurarei” [cf. Mt 11,28]. Esta era a voz que emanava do seu coração, era a Sua voz. E os famintos saíam saciados, os nus cobertos, os aflitos consolados, os fracos fortalecidos, os pecadores saíam convertidos, os pobres enriquecidos, mais do que de dinheiro, enriquecidos de DEUS!!!

Em meio à pobreza da guerra, pediam tudo a Chiara (…). Eu me lembro que quando eu encontrei as suas companheiras, fiquei muito impressionada, voltei logo para minha casa e procurei logo tirar farinha das gavetas da minha casa, procurei batatas, procurei um pouco de verdura e fui entregar a Chiara. Mas depois eu vi que não dava certo, porque era pouco demais. E eu me lembro que entrei numa igreja e pedi a Deus um trabalho para poder ajudar Chiara e suas primeiras companheiras com o meu ordenado. Eu pedi e não encontrava, pedi outra vez e não encontrava e estava quase desanimando… No entanto precisa acreditar e depois encontrei um trabalho  bom, assim eu consegui ajudar Chiara.

Naquele trabalho, de vez em quando, havia alguém que nos dava um pouco de leite em pó, um pouco de carne em lata, e eu me lembro que eu ia, eu corria pela rua para chegar até a casa de Chiara. Lembro a festa que Chiara fazia quando nós entrávamos com a Providência.

Lembro-me que uma vez, eu fui e entreguei a Chiara um pouco de sal, num papel. Quando Chiara viu aquele sal, quase chorou. No dia seguinte me contou: “Você sabe Ginetta, ontem quando você veio eu tinha vontade de dizer: “Ginetta, a nós falta o sal, mas eu não tive a coragem, mas Jesus teve e disse a  você que a nós faltava o sal e você veio com o sal”.

Uma outra vez, tinha chegado até Chiara a notícia de duas pessoas que iam se casar. Ela queria dar alguma coisa de presente, mas não tinha nada. Eu tinha uma bolsa que achava linda, mas talvez estava apegada àquela bolsa, talvez ela podia se tornar o meu tudo no lugar de Deus e, assim,  fui entregar essa bolsa a Chiara. Chiara fez uma festa: “Mas você sabe Ginetta,  eu pedi a Jesus de me mandar um presente para aquela jovem e você veio com este presente, eu acho que ela vai gostar”. 

Uma outra vez ainda, alguém tinha me dado de presente umas roupinhas de recém-nascido. Pensei: “Vou levar para Chiara”. Fui e ofereci este presentinho, e Chiara feliz me disse: “Sabe, um pouco antes eu fui à igreja pedir uma roupinha para uma criança que vai nascer e cuja mãe está preocupada porque não sabe como vestir o seu filho”.

Eu me lembro que uma vez, no focolare da Praça dos Capuchinhos, tínhamos um ovo só, chegou um pobre, pediu um ovo e a Giosi[3] não queria dar, porque era o único. Mas uma de nós se aproximou dela e disse: “É Jesus que está pedindo um ovo”. Então ela deu. À tardezinha, ao pôr do sol, veio uma pessoa trazendo três ovos. Não dá para imaginar a alegria por aqueles três ovos. Mas, se ela não tivesse dado aquele ovo teria ficado com um, depois de ter dado aquele ovo, vieram três!

Eu contei a história do ovo, mas eu me lembro que uma outra vez veio uma família pedir alguma coisa, porque não sabia como viver, tiramos tudo o que tínhamos, comprometendo a vida das focolarinas, mas depois a Providência veio, a Providência existe, existe. Podemos acreditar em Deus e pedir a Deus.

No início, logo que conheci Chiara, não estava acostumada a visitar os velhinhos, os pobres, os doentes, as crianças abandonadas… O sofrimento me impressionava muito. Mas depois, lembro-me que fui visitar uma jovem que estava com a boca sangrando, depois uma outra, aproximei-me até de um moribundo, no hospital. Aquele rosto me lembrava o rosto de Jesus na cruz e, por amor dele eu superava o sentimento de timidez, de repugnância.

Uma vez Chiara me disse: “Ginetta, ontem, veio uma velhinha me dizer que está perdendo a vista; perdeu o marido e todo mundo a abandonou, está sozinha. Enquanto ela falava eu via nela Jesus Abandonado mesmo. Gostaria muito de ajudá-la, mas pensei que você poderia fazer a minha parte, portanto confio a você essa velhinha. Lembre-se Ginetta, é Jesus Abandonado”.

Eu ia sempre com Gis, minha irmã, visitar essa velhinha, mas nem sempre ela estava em casa. Então pensamos em fazer como Santa Catarina de Sena. Chiara tinha nos contado que Santa Catarina ia visitar os pobres de manhã cedo. Mesmo encontrando a porta dos pobres fechada, ela abria, entrava e colocava a comida ali para eles, depois saía sem que ninguém percebesse. Assim, preparávamos o almoço, ou o jantar, íamos ao quarto dela, abríamos a porta, colocávamos a comida e depois saíamos. Uma vez, percebendo que o quarto estava um pouco sujo começamos a fazer limpeza. Ela tinha um grande crucifixo pendurado na parede; tiramos, lavamos e depois saímos com o coração cheio de alegria porque tínhamos a impressão de ter estado com ele, Jesus.

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