O EVANGELHO de Mateus descreve neste capítulo a escolha que Jesus faz dos Doze e o envio deles para anunciar a sua mensagem.
Eles são nomeados um a um, sinal do relacionamento pessoal que construíram com o Mestre, uma vez que o seguiram desde o início da sua missão. Conheceram o seu estilo, caracterizado sobretudo pela proximidade com os doentes, os pecadores e aqueles que eram considerados endemoniados; pessoas, todas essas, que eram rejeitadas, julgadas negativamente, das quais era melhor manter-se distante. Só depois desses sinais concretos de amor pelo seu povo, o próprio Jesus se prepara para anunciar que o Reino de Deus está próximo.
Os apóstolos, então, são enviados em nome de Jesus, como seus “embaixadores”, e é Ele que deve ser acolhido por meio deles.
Frequentemente os grandes personagens da Bíblia, diante da abertura de coração para com um hóspede inesperado, não programado, acabam recebendo a visita do próprio Deus.
Também hoje, de modo especial nas culturas que mantêm um forte sentido comunitário, o hóspede é sagrado, mesmo quando é desconhecido; e para ele se prepara o melhor lugar.
“Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.”
Jesus dá suas instruções aos Doze: eles devem colocar-se a caminho, de pés descalços e com pouca bagagem: uma mochila simples, apenas uma túnica… Devem permitir que sejam tratados como hóspedes, dispostos a aceitar os cuidados dos outros, com humildade; devem oferecer gratuitamente a cura e a proximidade com os pobres e deixar a todos, como dádiva, a paz. Como Jesus, serão pacientes nas incompreensões e nas perseguições, na certeza de que o amor do Pai os assiste.
Dessa forma, quem tiver a sorte de encontrar-se com algum deles poderá realmente experimentar a ternura de Deus.
“Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.”
Todos os cristãos têm uma missão, como os discípulos: testemunhar serenamente, primeiro com a vida e depois também com a palavra, o amor de Deus que eles mesmos encontraram, a fim de que isso se torne uma realidade feliz para muitos, para todos. E, uma vez que encontraram acolhida junto a Deus apesar de suas fragilidades, o primeiro testemunho é justamente a acolhida calorosa do irmão.
Em uma sociedade muitas vezes marcada pela busca do sucesso e de uma autonomia egoísta, os cristãos são chamados a mostrar a beleza da fraternidade, que faz cada um reconhecer as necessidades do outro e desperta a reciprocidade.
“Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.”
Assim escreveu Chiara Lubich, com relação à acolhida segundo o Evangelho: (…) Jesus foi a manifestação do amor plenamente acolhedor do Pai celeste para cada um de nós e do amor que, consequentemente, nós deveríamos ter uns para com os outros. (…) Procuraremos, então, viver esta Palavra de Vida antes de mais nada no âmbito de nossas famílias, associações, comunidades, grupos de trabalho, eliminando em nós os julgamentos, as discriminações, os preconceitos, os ressentimentos, as intolerâncias que surgem tão facilmente e tão frequentemente diante deste ou daquele próximo. São esses os sentimentos que tanto esfriam e comprometem os relacionamentos humanos, impedindo o amor recíproco, fazendo-o emperrar, como se fossem ferrugem. (…) A aceitação do outro, daquele que é diferente de nós, é o fundamento do amor cristão. É o ponto de partida, o primeiro degrau para a construção daquela civilização do amor, daquela cultura de comunhão, à qual Jesus nos chama, principalmente hoje.1
Por Letizia Magri
A autora é especialista em matrimônio e família na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma. Desde março de 2017, escreve a Palavra de Vida como representante de um grupo de membros do Movimento dos Focolares de diferentes idades, culturas e profissões, entre os quais especialistas em exegese bíblica, ecumenismo e comunicação