QUEM NUNCA chorou na vida? E quem não conheceu pessoas cuja dor extravasava através das lágrimas? Mais ainda: quando os meios de comunicação trazem para dentro de casa imagens do mundo inteiro, corremos até mesmo o risco de nos acostumarmos, de endurecermos o coração diante da enxurrada de sofrimentos que ameaça nos submergir.
Também Jesus chorou1 e conheceu o lamento do seu povo, vítima da ocupação estrangeira. Muitos doentes, pobres, viúvas, órfãos, marginalizados, pecadores acorriam a Ele para escutarem a sua Palavra tranquilizadora e serem curados no corpo e na alma.
No Evangelho de Mateus, Jesus é o Messias que cumpre as promessas que Deus fez a Israel e por isso anuncia:
“Felizes os que choram, porque serão consolados.”
Jesus não é indiferente diante das nossas aflições e se empenha pessoalmente em curar o nosso coração da dureza do egoísmo, em preencher a nossa solidão, em dar vigor à nossa ação.
É o que nos diz Chiara Lubich, no seu comentário a essa mesma frase do Evangelho: Jesus, com essas suas palavras, não quer levar quem é infeliz a uma simples resignação, prometendo uma recompensa futura. Ele pensa também no presente. Com efeito, o seu Reino, embora não de modo definitivo, já está aqui. Ele está presente em Jesus que, ressuscitando de uma morte sofrida na maior aflição, venceu a morte. Está presente também em nós, no nosso coração de cristãos, pois Deus está em nós. A Trindade veio habitar em nossos corações. Por isso, a bem-aventurança anunciada por Jesus pode realizar-se desde já. (…) Os sofrimentos podem até permanecer, mas existe uma nova força que nos ajuda a carregar as provações da vida e a socorrer os outros nas suas dificuldades, para que as superem, vendo-as como Jesus as viu e as acolheu como meio de redenção2.
“Felizes os que choram, porque serão consolados.”
Na escola de Jesus, podemos aprender a ser, uns para os outros, testemunhas e instrumentos do amor terno e criativo do Pai. É fazer nascer um mundo novo, capaz de sanar a convivência humana pela raiz e de atrair a presença de Deus entre os homens, fonte inesgotável de consolação para enxugar toda lágrima.
Vejamos como Lena e Philippe, do Líbano, partilharam a própria experiência com os amigos da comunidade eclesial: Caríssimos, queremos agradecer-lhes pelos seus votos de felicidade por ocasião da Páscoa, tão especial este ano. Estamos bem e procuramos ter cuidado em não nos expormos ao vírus. Todavia, atuando na linha de frente da ação “Parrainage Liban”3, não podemos ficar sempre em casa e saímos geralmente a cada dois dias, para atender às necessidades urgentes de algumas famílias: dinheiro, roupas, alimentos, produtos farmacêuticos etc… Já antes da Covid-19, a situação econômica do país era muito difícil e agora piorou, como no mundo inteiro. Mas a Providência não falta: a última chegou na semana passada de um conterrâneo que mora fora do Líbano. Ele pediu que Lena fizesse chegar a doze famílias, durante todo o mês de abril, uma refeição completa, três vezes por semana. Uma bela confirmação do amor de Deus, que não se deixa vencer em generosidade.
1) Cf. Jo 11,35; Lc 19,41.
2) LUBICH, Chiara, O significado da dor, Palavra de Vida, novembro de 1981.
3) Lena explica: A ação “Parrainage Liban” (Patrocínio Líbano) começou em 1993 com um grupo de famílias que viviam a Palavra de Vida, para ajudar uma mãe com cinco filhos cujo marido estava preso. Até agora ajudamos cerca de 200 famílias, de todo o Líbano, independentemente de religião. Nossos colaboradores se dedicam de várias maneiras a restabelecer a autonomia das famílias, com visitas domiciliares, busca de moradia e de trabalho, ajuda para os estudos. Somos sustentados economicamente por uma centena de pessoas e empresas que acreditam em nossa ação.