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Paulo escreve à comunidade de Éfeso, uma grande e imponente cidade da Turquia, onde tinha vivido, batizando e evangelizando.
Agora, por volta do ano 62, provavelmente ele está em Roma, como prisioneiro. Sua situação é de sofrimento. Mesmo assim, ele escreve a esses cristãos, não tanto para resolver os problemas da comunidade, quanto para anunciar-lhes a beleza do projeto de Deus para a Igreja nascente.
Ele lembra aos efésios que, pelo dom do batismo e da fé, eles passaram da situação de “ser trevas” para a de “ser luz”, e os encoraja a se comportarem de forma coerente.
Para Paulo, trata-se de percorrer um caminho, de crescer constantemente no conhecimento de Deus e da sua amorosa vontade. É recomeçar, dia após dia.
Portanto, quer exortá-los a viverem na vida cotidiana de acordo com o chamado que receberam: serem “imitadores de Deus como filhos queridos”1: santos, misericordiosos.
“Procedei como filhos da luz. E o fruto da luz é toda espécie de bondade e de justiça e de verdade.”
Também nós, cristãos do século XXI, somos chamados a “sermos luz”. Mas podemos nos sentir inadequados, condicionados pelas nossas limitações ou dominados pelas circunstâncias externas.
Como, então, caminhar com esperança, apesar das trevas e das incertezas que às vezes parecem nos dominar?
Paulo continua nos encorajando: é a Palavra de Deus vivida que nos ilumina e nos torna capazes de “brilhar como luzeiros”2 nesta humanidade desnorteada.
“Como um outro Cristo, cada homem e cada mulher pode dar a sua contribuição […] em todos os campos da atividade humana: na ciência, na arte, na política. […] Se acolhermos a sua Palavra, estaremos cada vez mais sintonizados com os seus pensamentos, com os seus sentimentos, com os seus ensinamentos. A Palavra ilumina todas as nossas atividades, retifica e corrige todas as expressões da nossa vida. […] O nosso “homem velho” (cf. Rm 6,6) está sempre pronto a se fechar no seu próprio mundo, a cultivar os pequenos interesses pessoais, a se esquecer das pessoas que passam ao nosso lado, a ficar indiferente diante do bem público, das exigências da humanidade que nos rodeia. Portanto, vamos reacender em nosso coração a chama do amor, e assim teremos olhos novos para ver o que acontece ao nosso redor.3
“Procedei como filhos da luz. E o fruto da luz é toda espécie de bondade e de justiça e de verdade.”
A luz do Evangelho vivido por indivíduos e comunidades traz esperança e fortalece os laços sociais, inclusive quando calamidades como a Covid-19 causam sofrimento e agravam as situações de pobreza.
Nas Filipinas, como nos conta Júlio, no auge da pandemia, uma comunidade foi devastada por um incêndio e muitas famílias perderam tudo: “Apesar de sermos pobres, minha esposa Florinda e eu sentíamos um grande desejo de ajudar. Então compartilhei essa situação com o grupo de motociclistas do qual faço parte, mesmo sabendo que eles estavam sofrendo como nós. Isso não impediu que meus amigos arregaçassem as mangas: arrecadamos sardinha em lata, macarrão, arroz e outros alimentos, que doamos às vítimas dos incêndios.
Muitas vezes, minha esposa e eu nos sentimos desencorajados ao pensar naquilo que o futuro reserva para nós, mas sempre nos lembramos da frase do Evangelho que diz: ‘Quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará’4. Embora não sejamos ricos, acreditamos que sempre temos algo a compartilhar por amor a Jesus no outro. É esse amor que nos impulsiona a continuar a doar com sinceridade e a confiar no amor de Deus”.
Resumindo, portanto, é deixar-se iluminar no fundo do coração. Os bons frutos deste caminho – bondade, justiça e verdade – agradam aos olhos do Senhor e se tornam testemunho da vida sublime do Evangelho, mais do que qualquer discurso.
E não esqueçamos o apoio que recebemos de todos aqueles com os quais compartilhamos esta “Santa Viagem” da vida. O bem que recebemos, o perdão mútuo que experimentamos, a partilha de bens materiais e espirituais que podemos viver: tudo isso são ajudas preciosas, que nos abrem à esperança e nos tornam testemunhas.
Jesus prometeu: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”5.
Ele, o Ressuscitado, fonte de nossa vida cristã, está sempre conosco na oração comum e no amor recíproco, aquecendo nosso coração e iluminando nossa mente.
Por Letizia Magri com a comissão da Palavra de Vida
1) Cf. Ef 5,1.
2) Cf. Fl 2,15.
3) LUBICH, Chiara, Cidadania de amor, Palavra de Vida, setembro de 2005.
4) Cf. Mc 8,35.
5) Cf. Mt 28,20.