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O APÓSTOLO Paulo acompanhou com amor o desenvolvimento da comunidade cristã na cidade de Corinto, na Grécia; ele a visitou e lhe deu sustento em tempos difíceis.
A certa altura, porém, com essa Carta, Paulo teve de fazer sua própria defesa diante das acusações de outros pregadores, para os quais o seu estilo era questionável. Ele era considerado suspeito, porque não pedia retribuições pelo seu trabalho missionário; não falava de acordo com os padrões da eloquência; não se apresentava com cartas de recomendação atestando sua autoridade; proclamava que compreendia e vivia a própria fraqueza à luz do exemplo de Jesus.
Mesmo assim, ao concluir a Carta, Paulo dirige aos coríntios um apelo cheio de confiança e esperança:
“Alegrai-vos, procurai a perfeição, encorajai-vos, tende um mesmo pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco.”
A primeira particularidade que chama a atenção é que suas exortações são dirigidas à comunidade no seu conjunto, como um lugar em que se pode experimentar a presença de Deus. Existem as fragilidades humanas que dificultam a compreensão recíproca, a comunicação leal e sincera, a conciliação respeitosa nas diversidades de experiências e de pensamento. Mas todas podem ser remediadas pela presença do Deus da paz.
Paulo sugere alguns comportamentos concretos e coerentes com as exigências do Evangelho: visar à realização do desígnio de Deus para todos e para cada um, como irmãos e irmãs; fazer circular o mesmo amor consolador de Deus que nós recebemos; cuidar uns dos outros, compartilhando as aspirações mais profundas; acolher-se mutuamente, oferecendo e recebendo misericórdia e perdão; estimular a confiança e a escuta.
São escolhas confiadas à nossa liberdade que, às vezes, exigem de nós a coragem de sermos “sinal de contradição” diante da mentalidade reinante.
Por isso, o Apóstolo recomenda também que nos encorajemos mutuamente nessa lida. Para ele, o que vale é proteger e testemunhar com alegria o valor inestimável da unidade e da paz, na caridade e na verdade. Tudo, sempre, alicerçado na rocha do amor incondicional de Deus que acompanha o seu povo.
“Alegrai-vos, procurai a perfeição, encorajai-vos, tende um mesmo pensar, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco.”
Para viver esta Palavra de Vida, também nós devemos olhar, como fez Paulo, para o exemplo e os sentimentos de Jesus, que veio trazer-nos uma paz que só Ele tem1. É uma paz que, na verdade, “[…] não consiste só na ausência de guerras, de lutas, de divisões, de traumas […]: é plenitude de vida e de alegria, é salvação integral da pessoa, é liberdade, é fraternidade no amor entre todos os povos. […] Mas o que fez Jesus para nos dar a ‘sua’ paz? Ele pagou em primeira pessoa. […] Ele se colocou no meio dos rivais, arcou com os ódios e as separações, derrubou os muros que separavam os povos.2 […]
A construção da paz exige também de nós um amor forte, capaz de amar até mesmo aqueles que não retribuem, capaz de perdoar, de superar a categoria do inimigo, capaz de amar a pátria alheia como a própria. […] Além disso, exige de nós coração e olhos novos para amar e ver em cada pessoa um candidato à fraternidade universal. […] ‘O mal nasce do coração do homem’, escrevia Igino Giordani3, e ‘para remover o perigo da guerra é preciso remover o espírito de agressão, de exploração, de egoísmo, do qual provém a guerra: é preciso reconstruir uma consciência’4”5.
Bonita Park é um bairro de Hartswater, pequena cidade agrícola na África do Sul. Ali, assim como no resto do país, persistem os efeitos herdados do regime do Apartheid, sobretudo no âmbito da educação: os resultados acadêmicos dos jovens pertencentes aos grupos negros e mestiços são muito inferiores aos dos outros grupos étnicos, com o consequente risco de marginalização social.
O projeto “The Bridge” (“A Ponte”) nasceu para criar uma mediação entre os diferentes grupos étnicos do bairro, superando as distâncias e as diferenças culturais com a criação de um programa letivo no contraturno escolar e a abertura de um pequeno espaço comum, como ponto de encontro entre culturas diferentes, para crianças e adolescentes. A comunidade demonstra uma grande vontade de trabalhar em conjunto: na hora de fabricarem as carteiras escolares, Carlos ofereceu sua velha caminhonete para buscar a madeira; o diretor de uma escola das proximidades ofereceu estantes, cadernos e livros, enquanto que a Igreja Reformada Holandesa doou cinquenta cadeiras. Cada um tem feito a sua parte para que essa ponte entre culturas e etnias se torne cada dia mais forte.6
1) Cf. Jo 14,27.
2) Cf. Ef 2,14-18.
3) Igino Giordani (1894-1980), escritor e político italiano, cofundador do Movimento dos Focolares.
4) GIORDANI, Igino, L’inutilità della guerra. Roma: Città Nuova, 2003, p. 111.
5) LUBICH, Chiara, A paz que é fraternidade. Palavra de Vida, janeiro de 2004.
6) Cf.: https://www.unitedworldproject.org/workshop/sudafrica-un-ponte-tra-culture;
Spazio famiglia, marzo 2019, p. 10-13.
Por Letizia Magri com a comissão da Palavra de Vida