“Quando ouvi uma Focolarina falar sobre ‘Deus Amor’ eu logo entendi, como eu era amada por Deus.” 

Eurides Bezerra nasceu em 1º de outubro de 1930, no Sertão da Bahia, e viveu em Euclides da Cunha. Conectada a Deus deste pequenina, viveu com intensidade o Carisma da Unidade sendo Voluntária de Deus e recebeu o carinho da grande família Focolares em seus anos de vida, até que, em 7 de outubro de 2020, partiu do plano terreno, deixando filhos e filhas de coração.

Foi em 1981 que sua vida mudou profundamente quando conheceu o Movimentos dos Focolares. Como ela mesma contou “foi uma verdadeira conversão” e logo começou  o seu apostolado pela sua cidade e arredores. No ano seguinte, levou dois ônibus cheio de jovens e adultos para a Mariápolis e, de lá para cá, vários foram os frutos que nasceram para este Carisma.

“Um exemplo para todas nós. Quando não conseguia um carro para levá-la nos arredores  distante, ela com seus 87 anos pegava uma moto-táxi e ia ao encontro das pessoas. Para ela não existia dificuldades”.

Conta Celia Azevedo, que viveu ao lado de Eurides

O texto a seguir foi enviado por Celia, que acredita ter sido escrito por Eurides depois que ela chegou da Terra Santa, provavelmente em 1999.

 História de uma vida em Deus 

 “AOS MEUS FILHOS” 

Vejam meus filhos, como tudo na vida da “mãe” de vocês, teve a  Proteção e assistência de Deus 

Nasci eu um lugarzinho ás margens do Rio São Francisco, por nome “Abaré”. Lembro-me que , na minha infância gostava de ir ao catecismo na Igreja aos domingos e ficava feliz, quando chegava um Padre que vinha da cidade de Belém para celebrar a missa. 

Era um dia de festa para mim!… 

Em Abaré estudei as primeiras letras… A professora aconselhou a  Minha mãe, a me colocar na escola em Belém de São Francisco; lá o  Ensino era melhor… Meu pai tinha uma tia que morava lá, logo me acolheu com todo carinho! Eu tinha mais ou menos 10 ou 11 anos de vida… Nesta cidade estudei 3 anos. 

Lembro-me bem das belas caminhadas de “ Frei Damião !” Tinha os dias  em que ele encontrava com as crianças na igreja; eu contava as horas para ouvir o Frei falar – o Frei que todos diziam – “ ser Santo… ” No dia do encontro eu chegava em primeiro lugar na Igreja! Ás vezes filava a aula… Tinha os dias de “procissão de barco” no Rio São Francisco às 5 horas  da manhã. À noite eu não dormia direito com medo de perder a hora …  Um dia minha tia disse “você é ainda pequena para ir á beira do rio; é  perigoso! Não vá mais á procissão de barco; basta ir para a Igreja” Eu não respondi nada, mas saia escondida e continuei indo! 

Ela não reclamou mais. Jesus fez minha tia silenciar… Ele conhecia bem, o quanto minha alma de criança, tinha sede de Deus… 

Recordo-me bem, que um dia quando o Frei estava falando na Igreja  Para nós, entrou um caixãozinho de uma criança que tinha morrido. Ele disse: “quando parte para o céu um anjinho, vocês vão levar até o cemitério e cantem, cantem até entregar o anjinho a Jesus” Deste dia em diante , eu procurava saber se tinha morrido alguma criança, para eu correr e fazer o que o Frei tinha ensinado… 

Quando acontecia , eu cantava com minhas colegas aquela velha canção:  “com minha mãe estarei na santa glória um dia…” cantava tão alto que  voltava para casa rouca! A minha felicidade era tão grande que, pouco lembrava de pai, mãe e irmãos. 

Olhem , meus filhos, hoje eu entendo que Jesus me chamou na cidade  de Belém, para eu dar os primeiros passos e aprender com Frei Damião a caminhar para Deus… 

Outra coisa que nunca esqueci – Quando a barca de abaré chegava no porto  de Belém, eu ia com a moça que morava com minha tia pegar alguma coisa que minha mãe mandava para mim. Embaixo de uma árvore, ficava  um velhinho que pedia esmola e eu me preocupava para dar um pouco do  que vinha para mim, aquele velhinho. Eu gostava muito de dar esmolas… 

Que bom o que eu dava e ele, Jesus me deu dobro até hoje !… Talvez por este meu desapego, nada me faltou para ter uma vida digna neste mundo. 

Jesus fez todas as minhas vontades! Até “dólares” me ofereceu; preparou tudo , para eu ir para Roma por duas vezes e a Israel sua terra natal, coisa que eu nunca pensei em minha vida!… 

Dá para entender meus filhos, como o “Pai” que está no céu, cuidou da mãe de  vocês? Observaram o quanto Ele preparou tudo , até a minha visita a  “Terra Santa!” nunca pensei em ter “dólares ” ! para uma viagem como esta que fiz… É o cêntuplo de Deus! Ele prometeu! Acreditem nas verdades que diz o Evangelho; “ pedires e recebereis dai e vos será dado até cem vezes mais…”  

Meus pais resolveram sair de Abaré e escolheram Euclides da Cunha para nossa nova morada. Quando nós chegamos aqui, chegou na mesma época, o Padre Renato que no correr do tempo providenciou um Colégio em Bomfim de Vila Nova para alguns jovens da cidade estudarem – “O colégio das irmãs sacramentinas” . Eu fazia parte do coral Santa Cecília da Igreja. 

O Padre conversou com minha mãe que eu estava entre as jovens que deveria ir estudar. Era um novo plano de Deus! Neste Colégio, estudei seis anos de graça dos céus na minha vida… Lembro-me nas horas do terço na capela no mês de Maio, eu respondia a Ave-Maria tão alta, com uma alegria no coração que, um dia uma irmã disse: “pode rezar mais baixo que Maria lhe escuta… Deste dia em diante começou uma grande amizade com esta freira, irmã Angélica que tudo fazia por mim…Ela me chamava de “Borboleta” por me ver  sempre correndo nos corredores do colégio, feliz e alegre! Quando eu vinha de férias ela me escrevia e sempre me acompanhava… 

Próximo ao Carnaval recebi uma carta dela que dizia: “Cuidado filhinha com os dias do demônio! Sei que a borboleta é ajuizada e não gosta de desobedecer a Deus; mas tenha cuidado com as maldades do mundo !” . Esta freira já está no céu, quem sabe ,  de lá ela está cuidando de mim. Nesta época eu tinha mais ou menos 18 anos.

Depois de alguns anos me formei em Professora, fiz concurso e fui ensinar em Quijingue. Também foi um tempo muito bom e proveitoso para a Glória de Deus ! eu dava aula de  religião aos adultos e reunia as crianças na Igreja, falava do Evangelho para a comunidade;  fazia tudo que eu gostava!… Uma ocasião teve uma pequena guerra, uma confusão muito grande, onde teve tiros e morreram algumas pessoas e outras ficaram feridos; eu ajudei o  médico que foi daqui de E. da Cunha e fiquei fazendo os curativos dos doentes por muitos dias. 

Quando tudo passou, fizemos uma festa na Igreja com todos os familiares agradecendo pela vida dos que se salvaram. Foi muito belo! ( para São João Batista ). Depois de dois anos fui  transferida para E. da Cunha. O meu Padrinho de formatura , meu tio, me ofereceu um  passeio em Santo André – (SP) onde ele morava. Fui ao passeio, gostei de tudo! Nos dias de carnaval as primas só falavam em me levar para o Clube etc… 

Lembrava-me da carta de irmã Angélica que dizia: “cuidado filhinha com os dias do demônio…” Como eu tinha levado uma carta de Ceci do correio para uma irmã dela que era freira no colégio Santa Inês irmã Adelina , então eu aproveitei e pedi as minhas primas para me levarem até o colégio para entregar a carta. Elas foram e tudo aconteceu como Jesus tinha preparado…  Chegamos até a irmã Adelina e ela me fez o convite para passar uns dias com ela no colégio e  disse: ”estes dias de carnaval vai haver um encontro de jovens aqui, venha ficar comigo” e as primas responderam: “não, ela veio conhecer São Paulo e temos que passear” (não me lembro das outras palavras…) 

Meu coração bateu forte e perguntei as primas se elas poderiam me trazer aqui outra vez?  Assim tudo aconteceu! Passei 5 dias de carnaval no “paraíso” com as freiras como eu gostava… E Jesus me escondeu dos demônios! Entenderam ? perceberam com foi a minha juventude? Como a mãe de vocês sempre foi guiada por Deus? 

Ainda tem dúvida da misericórdia do Pai para comigo? Esta obediência a Deus que irmã Angélica descobriu dentro do meu coração de adolescente, foi o que me segurou na vida de jovem, de professora, esposa , mãe, como cristã e filha de Deus ! Mas Jesus preparou mais um plano “salvifíco” para minha caminhada aqui na terra . Uma religiosa do colégio onde eu estudei, me convidou para um Congresso do “ Movimento dos Focolares ”   (também um encontro de Carnaval). 

Quando ouvi uma Focolarina falar sobre “Deus Amor” eu logo entendi, como eu era amada por Deus. 

Agora prestem atenção – quando eu fui para Belém com 10 anos de vida, eu já mostrava para todos o meu forte temperamento (parece que já nasci assim). Um tio meu trouxe uma boneca que eu havia pedido a ele; mas a boneca não veio como eu queria .  Na mesma hora, vejam só, quebrei a boneca com os pés !… Minha mãe sempre me  lembrava que minha prima tinha um apelido , quando os meninos gritavam pelo apelido dela , minha prima chorava , enquanto eu enfrentava a briga!!! 

Sempre fui muito sincera, vejam só! A vizinha chegou em casa e pediu a minha mãe alguns côcos emprestado; minha mãe respondeu que não tinha , eu deixei passar uns dias fui á casa da vizinha e disse para ela: olhe, em casa tinha os côcos que a Senhora queria, a minha mãe não emprestou porque não quis, a vizinha foi prestar queixa a D. Ester e eu tomei a maior surra da minha vida… No outro dia fui até lá, chamei a vizinha de todos os nomes feios que eu sabia, briguei tanto que ela foi correndo chamar meu pai. Nunca levei desaforo para casa.

Temperamental, explosiva, mandona, etc. nasci assim, assim cresci. Sempre fui muito temente a Deus e obediente a minha mãe, quando aprontava as minhas , arrependida  chorava , pedia perdão a Deus e só conseguia dormir depois que D. Ester me perdoava. 

Foi quando a descoberta de “Deus Amor” na ” Obra de Maria” que eu senti a necessidade de mudar . Vi que Deus me amava como eu era, mas precisava haver uma mudança urgente dentro e fora de mim , para retribuir esse amor de Deus para comigo. Tive que me fazer “nada” , morrer tudo: minha vontade, minhas ideias, deixar de ser eu mesma, para colocar em prática o evangelho na minha vida. Digo a vocês meus filhos, a morte do meu eu para viver a palavra , fazendo somente á vontade de Deus , foi a maior e mais feliz descoberta da minha vida terrena.  E os Focolarinos, o maior presente Que os céus poderia me oferecer, com eles aprendi a caminhar  para perto de Deus e ser uma “nova pessoa” na vivência do amor ao irmão… 

Todo trabalho de Deus na minha alma me dá a certeza de uma “nova morada” no céu! Vocês observaram que Jesus não me deixou caminhar sozinha pela estrada perigosa da vida? Por isto digo á vocês: Quando eu partir desta terra não se preocupem ! rezem … Não chorem! Agradeçam a Deus o tempo que eu estive com vocês.

Não perguntem nada ao coração – aceitem a vontade do Pai que está no céu. Nas horas  difíceis que a vida oferece – falem com Jesus, chamem por Maria. Peçam luzes as Espirito  Santo e depois podem lembrar de mim (como Anjo da Guarda). 

Lutei comigo mesma, me esforcei para ser esposa e mãe segundo a vontade de Deus.  A carne sempre foi fraca, caindo e levantando, procurei dar bons exemplos… esta foi a minha vida terrena. Lá no céu espero vocês, não como mãe e filhos , mas como “anjos” para juntos louvar e adorar a Deus. Quando eu partir , não me procurem entre os  mortos… Continuarei viva ! com e certeza que o Espírito Santo , “FARÁ NOVA TODAS AS COISAS…” . Minhas últimas palavras: Conheci muitas pessoas boas e santas neste mundo, mas digo   “vocês, foram os focolarinos que me deram os melhores exemplos de vida de santidade  e me fizeram chegar mais perto de Deus. Agradeço ao Pai por Ele ter colocado no meu coração,  na minha mente, em todo o meu ser, essa grande paixão pelo Focolare, paixão que me fez viver no mundo sem ser do mundo.  

Se algum dia a tempestade chegar e vocês tiverem , angustiados, sofrendo, sem esperança, procurem  um Focolarino e vejam como o amor que eles tem para dar é diferente! Voces serão acolhidos não como filhos de Eurides, mas como filhos de Deus, ai vocês entenderão o porquê desta minha grande paixão.  Com a descoberta e ensinamento de Chiara a cada momento digo a Jesus: “Ti dou graças Pai porque escondestes essas coisas aos sábios a as revelastes aos pequenos…” para concluir digo: Fui mãe diante  de vocês filhos…Não sei se fui mãe diante de Deus… Espero o que Ele tem a me dizer… Confiante na sua  Misericórdia. 

REZEM POR MIM! Se possível , com a permissão de Pai procurarei ajuda-los … Digo como Santa Terezinha: “Não morro… eu vou entrar na vida”. Que chegue até meus netos a minha vida, neste  vale de lágrimas, onde eu fui muito feliz e abençoada por Deus. 

As meninas que as mães partiram para o céu e me foram entregues por jesus: Valdelice e Lourdinha,  para elas, não sei se fui “mãe!” Sei que cuidei e fiz o possível para cria-las como filhas de Deus.  Elas foram muito boas comigo, só tenho gratidão para com elas… Levo comigo as saudades!

Lá onde eu estiver, pedirei ao Pai para cuidar de cada uma. Leidinha também faz parte, valeu! Agradeço o carinho que sempre teve para comigo; maninho também foi especial para mim, obrigada! Outro que sempre tive como genro , Totó sempre vi nele um homem de bem, Obrigada por ter me dado netos lindos! 

Perto de Jesus pedirei por todos vocês que fizeram parte da minha vida terrena… Partirei  feliz e vocês também foram responsáveis por toda minha felicidade aqui na terra. 

OBRIGADA A TODOS…!!! ESTOU FELIZ E ONDE ESTIVER NÃO ESQUECEREI DE VOCES!!! 

Recado (especial) para Lourdinha : “Voce não foi gerada no meu ventre, mas foi gerada em meu coração”. 

 Vossa, 

 Eurides 

ATÉ LÁ….

Depoimentos

Obrigada, Eurides, pelo grande exemplo de vida permeada no Amor a Deus diante dos irmãos.  Mulher forte, Mãe amável de grande coração! Belissima voluntaria de Deus. Fiel até o fim ao Esposo da sua alma: Jesus  Abandonado que ela aprendeu a amar, seguindo o Carisma de Chiara Lubich, no caminho da Unidade para alcançar a Santidade!  Ela dizia:  “para mim nada é coincidência, tudo é  providência de Deus. Tudo é Deus, é Ele quem faz!”

Celia Azevedo.

Dona de uma alegria sem igual, falar de Dona Eurides é sinônimo de se sentir no coração aquela inspiração de lutar agora pelo mundo unido, não amanhã ou depois como tantas vezes acabamos fazendo.

Lembro dela no ajornamento ano passado, contando da sua maneira fofa e humilde como tinha feito mais uma de suas ações coladas ao Espírito Santo: conseguir ônibus para levar os jovens para a Mariápolis, porque para ela não existia isso de dificuldade no amar, só solução ainda não achada. 

Lembro de como ela sempre segurava na gente com força, e com aquele olhar determinado que fazia a gente lembrar da nossa primeira inspiração: Chiara Lubich. 

Ela como ninguém soube que temos uma vida, e convém vivê-la bem. 

E viveu tanto que encheu e sempre encherá de vida os corações de todos nós. 

Gratidão

Conta uma jovem.
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