Por José Augusto Suruagy Monteiro.
No dia 5 de novembro de 1959 – nos conta Vera Araújo – comemoramos a chegada dos focolares no Recife (PE). Mas o carisma de Chiara Lubich já tinha chegado por este nosso Brasil, em anos anteriores, através de sacerdotes e religiosos. E, no mês de novembro de 1958, Lia Brunet, Marco Tecilla e Fiore Ungaro iniciaram em Recife uma longa viagem que os levaria a São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Santiago do Chile, Montevidéu e Buenos Aires.
Os 10 dias por eles passados no Recife foram como um vendaval que trazia uma notícia boa: o Evangelho pode e deve ser vivido, encarnado; o amor de Deus e o amor ao próximo são realidade no hoje das nossas vidas. Foram dias intensos, revolucionários que geraram de imediato uma comunidade que se alimentava da Palavra de Deus: jovens, famílias, crianças, sacerdotes, religiosos unidos como irmãos e irmãs em Cristo, que habitava entre eles.
Em um depoimento, Enzo Morandi, um desses pioneiros, contou: “Em julho de 1959, verão na Itália, o Movimento dos Focolares promoveu a Mariápolis da qual participaram cerca de 10.000 pessoas e pela primeira vez um pequeno grupo de brasileiros. Eram cinco pessoas das quais 4 moças cantaram uma canção: “Vento que balança as palhas dos coqueiros…”. Era para nós algo impressionante, exótico. Era a demonstração que o Carisma da unidade começava a chegar nos últimos confins da terra conforme aquela famosa oração do Salmo 2: ‘Pede-me e te darei em herança todas as gentes até os últimos confins da terra…’ Depois, à medida que se aproxima o final da Mariápolis crescia a expectativa das decisões que estavam em pauta com relação aos primeiros focolares no Brasil. Após o retorno dos brasileiros a Recife, Chiara recebeu uma carta do arcebispo D. Antonio de Almeida Junior que sugeria Recife para a abertura dos primeiros centros do Movimento, o mesmo tinha pedido no ano anterior a Marco, Fiore e Lia que não prosseguissem a viagem para o sul sem antes formar um grupo do Movimento aqui, além disso em nenhuma outra localidade visitada por eles o Ideal de Chiara tinha sido acolhido de maneira tão aberta e generosa como em Recife. Assim entendemos porque Chiara aderiu imediatamente ao pedido do arcebispo. Dois meses depois da Mariápolis chegou o dia da partida: Ginetta, Violeta, Marisa, Fiore, Marco, Enzo, Gianni, Rino vieram de navio, no dia 25 de outubro, dia de Cristo Rei, essa coincidência parecia confirmar mais uma vez a existência de uma misterioso desígnio de Deus. Chegamos a Recife dia 5 de novembro, antes da chegada cruzamos com algumas jangadas e avistamos de longe as praias paraibanas coroadas de verdes coqueiros. Nós os focolarinos antes de alugar um local fomos hospedados numa sala da igreja de Espinheiro, aqui onde para nossa surpresa a única decoração era um quadro de Cristo Rei”.
Depois de algumas semanas eles se apresentaram ao arcebispo, que assim se expressou: “Um grande Ideal move os focolarinos. Os cristãos sem um grande Ideal são como navegantes sem bússola”. E retribuiu a visita.
Começou um intenso trabalho de apostolado, inteiramente baseado no amor mútuo e nas experiências de fé vivida. Desde quando se tinha concluído a primeira viagem sul-americana, todos os domingos se realizava em Recife um encontro para os amigos e para os novos convidados, em número crescente, no Colégio Santa Catarina. No domingo, depois da chegada dos Focolares no Recife de forma definitiva, mais de 200 pessoas compareceram para conhecê-los.
José Adolfo, um dos primeiros focolarinos casados de Recife, relembra como começou sua vida no Carisma da Unidade. Ele havia sido convidado por alguns amigos, mas não queria ir pois pensava que se tratava de um dos tantos Movimentos que brotavam e logo desapareciam. Porém, um dia, decidiu ir até lá. “E vendo o radicalismo daqueles jovens, eu me senti como o jovem rico do Evangelho. Decidi não continuar mais fugindo. Falei disso com minha esposa Lucy e ela também começou a ir. A primeira coisa que me tocou foi o fato de que aqueles jovens procuravam viver o Evangelho. […] Nós estávamos acostumados a ler, meditar, escutar o Evangelho e a obedecer a alguma norma. Mas vivê-lo era uma grande novidade”.
Violeta Sartori uma daquele primeiro grupo, agora com 99 anos, assim nos escreveu: “Essa foi a minha primeira experiência fora da Itália. Encontrei um povo maravilhoso!!!!! Pensando em vocês nesses dias, me veio em mente os quase 25 anos passados aí no Brasil. Essa saudação quero fazer também em nome de todos os que vieram junto comigo a Recife 65 anos atrás. Pedimos a eles que já estão no céu, para nos ajudar a irmos sempre em frente, para poder levar adiante o carisma nesse maravilhoso País. Eu sempre me senti brasileira, e quero muito bem ao Brasil. Um grande abraço!!!!”
Em 1998, Chiara, que estava visitando o Brasil, escreveu: “Recife para mim, é a Belém do nosso Movimento no Brasil. Foi seu calor, sua acolhida à primeira semente que fez tudo nascer. Se, nesses dias, aconteceu no Brasil aquilo que aconteceu, é porque há quarenta anos Recife compreendeu o Ideal!” Em outra ocasião, durante a Mariápolis 1959 na Itália, conversando com um grupo de brasileiros que lá estavam, Chiara disse: “Recife é a Trento do Brasil”.
Os atuais Conselheiros do Movimento dos Focolares para as Américas, Angél e Bernadette, escreveram: “Desejamos e esperamos que vocês continuem a anunciar o Evangelho, o Ideal, com novo ardor e nas mais variadas formas, correndo para o ‘que todos sejam um’.”
Já Margaret Karram, a atual presidente do Movimento dos Focolares, assim se expressou: “Desde 1959, a primeira centelha tornou-se um grande incêndio, que nestes 65 anos se multiplicou em todo o país e além, queimando os corações de uma multidão de mulheres, homens e jovens de todas as idades, formando um novo Povo gerado pelo carisma da unidade. O recente Genfest que celebramos em Aparecida é uma esplêndida manifestação disso!”
Gabriel Marquim, fundador da Comunidade dos Viventes, assim nos escreveu: “Quantos dons, quanta beleza, quanta alegria é possível ver no ato heroico daqueles que deixaram a Itália para trás e chegaram ao Brasil, um país tão distante quanto sedento. Hoje, agradeço a Deus tudo aquilo que se passou nesses 65 anos. Mas, principalmente, tudo aquilo que ainda virá nos próximos anos. Sim, porque radicalidade atrai radicalidade, e aquilo que os focolarinos aqui chegados fizeram deve impulsionar em nós um resposta mais viva e concreta na adesão incondicional ao Reino de Deus. Obrigado pelo testemunho, obrigado por nos ajudarem, a nós, Comunidade dos Viventes, a sermos generosos e entregues a Deus.”
Assista aos depoimentos dos primeiros focolarinos que desembarcaram no Brasil ->
Missa de celebração
No dia 06 de novembro de 2024, na Igreja do Espinheiro, que hospedou os primeiros focolarinos após a sua chegada, a comunidade realizou uma missa em celebração à festa da chegada dos Focolares no Recife. Veja alguns registros.