Obra social Casa de Maria

Foram 22 anos de espera até concretizar seu sonho de abrir uma social. Hoje, a Casa de Maria é uma realidade.

Desde o início da vida adulta sinto um chamado a servir aos mais desfavorecidos. Ajudava as pessoas que encontrava na rua – prestando auxílio e socorro; visitava idosos do asilo; atuava em instituições filantrópicas como Apae, a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais de forma voluntária; assistia aos moribundos levando a eles conforto espiritual. Jamais neguei um prato de comida aos pobres que batiam no portão da minha casa localizada no bairro do Mutuá, em São Gonçalo, onde morei por mais de 30 anos. Existiam inclusive alguns necessitados que eu alimentava diariamente. Por muitos anos acalentei o sonho de ter uma obra social para prestar um auxílio efetivo e continuado aos mais carentes.

As palavras de Jesus como “tudo que fizerdes ao menor dos meus irmãos é a mim que o fazeis” (Mt 25,40) e “tive fome e me destes de comer” (Mt 25,35) inspiravam minhas ações e meus projetos. Quando me tornei uma voluntária da Obra de Maria, esse meu sonho ficou ainda mais forte, alicerçado no amor aos mais pequeninhos, que expressam o vulto de Jesus Abandonado, conforme nos ensinou Chiara Lubich. Mudei-me para Niterói e planejava transformar nossa casa do Mutuá na sede de uma obra social. No entanto, para prestar auxílio a uma sobrinha do meu marido que desejava se casar e não tinha onde morar, cedemos a nossa residência.

Foram 22 anos de espera até concretizar esse sonho… Nesse tempo de espera, não cruzei os meus braços, impulsionada em amar os mais necessitados. Diariamente, fornecia um lanche para os porteiros do meu prédio que, como assalariados, nem sempre conseguiam providenciar algo para comer durante os plantões noturnos; dava pão e água fresca para os pobres que encontrava no meu trajeto até a igreja. Também tive a oportunidade de conseguir auxilio médico e um lugar para um mendigo com doença terminal passar os seus últimos momentos de vida. Convidada por uma sobrinha, comecei um trabalho de entrega de lanche e doação de roupas aos moradores de rua de São Gonçalo, que acontecia quinzenalmente. Como já residia em Niterói, me senti impulsionada a ajudar também os irmãozinhos de rua dessa cidade. Convidei algumas pessoas do Movimento e, junto com paroquianos da Igreja de São Domingos, no bairro de mesmo nome, passamos da preparar quentinhas que eram distribuídas nos arredores. A ação foi crescendo. Já não eram apenas quentinhas, mas também lanche, suco, água e roupas distribuídos aos que não tinham um lar.

Com a pandemia, não conseguimos dar continuidade ao trabalho em São Gonçalo. A saúde de meu marido ficou bem frágil e precisei me dedicar ainda mais a ele. Mesmo com pouco tempo disponível, consegui continuar à frente da ação em Niterói, que foi reformulada com a chegada de novos voluntários. No ano passado, nossa residência do Mutuá foi desocupada pela sobrinha, que encontrou uma casa para morar. Com o apoio de toda a família, especialmente de um genro que trabalha com obras, pudemos fazer algumas reformas no prédio. Em julho me presentearam com um churrasco de apresentação do espaço a convidados. Logo depois começamos a preparar refeições e distribuí-las nas ruas. No dia 7 de setembro, aprovamos o estatuto e demos posse a diretoria da obra social. Um diácono permanente esteve presente e se comprometeu a atuar como diretor espiritual da Casa de Maria. Senti que a distribuição de comida para os moradores de rua de Niterói podia continuar sem a minha liderança, como de fato aconteceu. Chegara o momento de cuidar da Casa de Maria.

Somos hoje cerca de 60 voluntários na Casa de Maria que auxiliam com doações, preparando e distribuindo todos os sábados cerca de 120 quentinhas. Contamos também com um bazar de roupas vendidas por preço acessível. O valor arrecadado é revertido para o pagamento da conta de luz e outros gastos da casa. Recentemente ganhamos um piano e temos recebido doação de livros que darão origem a dois projetos, o de aulas de música e o da biblioteca. Os desafios são muitos, tenho grande limitação de tempo já que preciso me dedicar à assistência do meu marido, mas confio em Deus Amor que tudo conduziu e conduzirá. E também em Maria, afinal, essa casa é dela.

Marina da Silva Hermano – Niteroi/RJ

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