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Tendo descido da montanha, depois de uma noite de oração, Jesus escolhe os seus apóstolos. Chegando a um lugar plano, faz-lhes um longo discurso que começa com a proclamação das Bem-aventuranças.
No texto de Lucas, diferentemente do Evangelho de Mateus, as Bem-aventuranças são apenas quatro e se referem aos pobres, aos que passam fome, aos sofredores e aos aflitos. Lucas acrescenta ainda quatro advertências contra os ricos, os fartos e os arrogantes1. Na sinagoga de Nazaré2, Jesus tinha assumido a missão de cumprir esta predileção de Deus pelos últimos, ao afirmar que sobre Ele está o Espírito do Senhor e que leva a Boa Nova aos pobres, a libertação aos presos e a liberdade aos oprimidos.
Jesus continua seu discurso exortando os discípulos a amar até mesmo os inimigos3. Essa mensagem encontra a raiz de sua motivação no comportamento do Pai Celeste: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). Essa afirmação é também o ponto de partida para o que vem a seguir: “Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados” (Lc 6,37).
Mais adiante Jesus adverte, por meio de uma imagem deliberadamente exagerada:
“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?”
Jesus conhece realmente o nosso coração. Quantas vezes, na vida quotidiana, fazemos esta triste experiência: é fácil criticar, até severamente, os erros e as fraquezas de um irmão ou de uma irmã, sem considerar que, fazendo isso, atribuímos a nós mesmos um direito que pertence somente a Deus. O fato é que, para “tirar a trave” do nosso olho, precisamos daquela humildade que vem da consciência de sermos pecadores, continuamente necessitados do perdão de Deus. Somente quem tem a coragem de perceber a própria “trave”, de ver o que precisa fazer pessoalmente para se converter, será capaz de compreender as fragilidades e as fraquezas suas e dos outros, sem julgar, sem exagerar.
Contudo, Jesus não está convidando a fechar os olhos e ficar no “deixa pra lá”. Ele deseja que seus seguidores se ajudem uns aos outros a progredir no caminho para uma vida nova. Também o apóstolo Paulo pede com insistência que nos preocupemos uns com os outros: admoestando os que levam vida desordenada, encorajando os desanimados, sustentando os fracos, sendo pacientes para com todos4. Só o amor é capaz de realizar um serviço dessa natureza.
“Por que reparas no cisco no olho do teu irmão, e a trave no teu próprio olho não percebes?”
Como colocar em prática esta Palavra de Vida?
Além do que já foi dito, podemos pedir a Jesus, a partir deste tempo de Quaresma, que nos ensine a ver os outros como Ele os vê, como Deus os vê. E Deus vê com os olhos do coração porque o seu olhar é um olhar de amor. Depois, como ajuda mútua, poderíamos retomar uma prática que foi decisiva para o primeiro grupo de jovens do Focolare em Trento.
“No início”, dizia Chiara Lubich a um grupo de amigos muçulmanos, “nem sempre era fácil […] viver o radicalismo do amor. […] Também entre nós, em nosso relacionamento, podia-se ‘depositar um pouco de poeira’, e a unidade podia esmorecer. Isso acontecia, por exemplo, quando percebíamos defeitos, imperfeições nos outros e os julgávamos. Então, a corrente do amor mútuo esfriava. Para reagir a essa situação, pensamos um dia estabelecer um pacto entre nós, e o chamamos de ‘pacto de misericórdia’. Decidimos ver, cada manhã, o próximo que encontrávamos – em casa, na escola, no trabalho etc. –, como novo, sem nos lembrar de maneira alguma dos seus defeitos, mas cobrindo tudo com o amor. […] Era um compromisso forte, assumido por nós todas juntas, que ajudava cada uma a ser sempre a primeira a amar, à imitação de Deus misericordioso, que perdoa e esquece.5”
Organizado por Augusto Parody Reyes com a comissão da Palavra de Vida.
1) Cf. Lc 6,20-26.
2) Cf. Lc 4,16-21.
3) Cf. Lc 6,27-35.
4) Cf. 1Ts 5,14.
5) LUBICH, Chiara, O amor ao próximo, Diálogo com os amigos muçulmanos, Castel Gandolfo, 1/11/2002. Cf. LUBICH, Chiara, O amor mútuo, São Paulo: Cidade Nova, 2021, p. 102-103.