“Tornai-vos misericordiosos, tal como também o vosso Pai é misericordioso“, essa Palavra de Vida me acompanhou diuturnamente, dando forças e renovação da fé. Aqui em nossa cidade, um familiar foi diagnosticado com a Covid-19. De uma família de nove irmãos, sempre foi uma pessoa saudável, independente e era solteiro, morava só em uma casa alugada. Muito embora possua muitos sobrinhos, naquele momento sua ligação maior era comigo, e foi assim de súbito que recebi a informação através de um telefonema: “o seu nome nos foi passado como pessoa responsável pelo paciente  aqui internado.” Confesso que me deu um frio, pois estaria eu exposto de forma direta, então, «Tornai-vos misericordiosos, tal como também o vosso Pai é misericordioso». 

Logo no dia seguinte, lá estava eu para fazer a internação do familiar como acompanhante. E o vírus, o meu trabalho, família, etc? Foi uma decisão tomada quase que de maneira instintiva; tu se esqueces de ti, porém o mundo continua funcionando. 

No dia seguinte meu tio é entubado, e minha função é comunicar os familiares de como isso ocorreu e como se está procedendo. Foi um período que parecia interminável de secreção que não se resolvia, então eu comunicava os familiares, mas pouco retorno recebia, a interação era mínima e ninguém queria se comprometer, pois vislumbrava-se uma pessoa totalmente dependente ao deixar o hospital, talvez com alguns movimentos limitados e uma possível dependência de oxigênio. 

Nesses momentos descobre-se a potência de Deus e como as lições são apresentadas, “tu vês o Jesus Abandonado” ele se apresenta a ti, não tem como negá-lo. Havia passado mais de 50 dias de internação, mas as esperanças sempre se renovando, até então não apareceram outros familiares para auxiliar. Os motivos eram os mais diversos, desde pequenos mal entendidos entre irmãos no passado à desculpas profissionais e idade avançada que impossibilitaria de permanecerem em um ambiente hospitalar em plena pandemia. Confesso que as palavras de vida destes meses nunca foram tão vividas, pensadas como essa. Sempre as lia, mas vivê-las por dentro “inserido” é um sentimento que não é mais teu: é algo que te conduz. 

Fico extremamente gratificado e renovado na fé ao ver que milagres acontecem. Um dos irmãos mais novos de meu tio ficou com ele no hospital, colocou-se à disposição para cuidá-lo e acolhê-lo após a alta hospitalar, reatando uma amizade que havia se quebrado no passado. 

Experiência de Amarildo de O. Sottoriva, de Caxias do Sul (RS).